O Antigo Testamento: Consequências do pecado de Adão e Eva - Parte VI
- Cláudia Pereira
- 16 de abr.
- 8 min de leitura
Atualizado: 8 de mai.
A Beata Ana Catarina Emmerick (em alemão: Anna Katharina Emmerich), nasceu em 8 de setembro de 1774 em Coesfeld e faleceu em 09 de fevereiro de 1824 em Dülmen na Alemanha. Foi uma freira agostiniana, grande mística e estigmatizada, elevada aos altares pelo Papa São João Paulo II a 3 de outubro de 2004.
Consequências do pecado de Adão e Eva
Visões da Beata Catarina Emmerick
Parte VI - Consequências do pecado de Adão e Eva
Adão e Eva, antes do pecado, tinham uma constituição muito diferente da que nós, pobres e miseráveis criaturas, temos agora. Com a ingestão do fruto proibido, eles adquiriram uma existência material (uma mudança de estado). O que antes era espiritual, tornou-se carnal, material, instrumento, um recipiente.
A princípio, eram um em Deus, buscavam a si mesmos em Deus; mas, depois, separaram-se de Deus com a sua própria vontade. E essa vontade própria, é uma busca de si mesmo, um desejo de pecado e impureza. Ao comer o fruto proibido, o homem afastou-se do seu Criador. Foi como se tivesse atraído a criação para si. Todo o poder criador, as operações e os atributos, a sua mistura uns com os outros e com toda a natureza, tornaram-se no homem coisas materiais de diferentes formas e funções.
Antes, o homem, por Deus, era o senhor de toda a natureza; agora, tudo que está no homem tornou-se natureza para ele, e ele é como um senhor escravizado e subjugado por seu próprio servo. Agora, tem de lutar e combater com a natureza - mas não consigo exprimi-lo claramente. Não consigo expressar-me melhor, mas parece-me que posso dizer que, antes, o homem era o centro e fundamento de todas as coisas criadas, quando estava em Deus e com Deus, mas pelo pecado, recebeu em si esta natureza, que se tornou sua senhora, e o tiraniza.
Vi em imagens, todo o interior do homem, seus órgãos em carne e corpo, como uma forma caída e corrupta, e imagens corpóreas e corruptíveis de criaturas, bem como a sua relação entre si, desde as estrelas até ao mais ínfimo ser vivo. Todos exercem uma influência sobre o homem. Ele está ligado a todos eles; deve agir e lutar contra elas, e delas sofrer. Mas não posso exprimi-lo claramente, pois também eu sou um membro da raça decaída.
O homem foi criado para preencher os coros dos anjos decaídos. Se não fosse a queda de Adão, a raça humana teria aumentado apenas até atingir o número dos anjos caídos, e então o mundo teria chegado ao fim. Se Adão e Eva tivessem vivido para ver uma geração sem pecado, não teriam caído. Foi-me assegurado, que o fim do mundo não virá, até que o número de anjos caídos seja preenchido, e todo o trigo, separado do joio, seja recolhido nos celeiros do Senhor.
Uma vez tive uma visão grande e interligada do pecado, e de todo o plano da Redenção. Vi todos os mistérios, clara e distintamente, mas é-me impossível pôr tudo em palavras. Vi o pecado, nas suas inúmeras ramificações, desde a Queda dos anjos e da Queda de Adão até aos dias de hoje, e vi todos os preparativos para a reparação e redenção, até à vinda e morte de Jesus. Jesus mostrou-me a inconcebível corrupção, a impureza intrínseca de todas as criaturas, bem como tudo o que Ele tinha feito, desde o início, para a sua purificação e restauração.
Na queda dos anjos, miríades de maus espíritos desceram à terra e ao ar. Vi muitas criaturas sob a influência da sua ira, possuídas por eles de muitas maneiras.
O primeiro homem, era uma imagem de Deus, era como o Céu; tudo era um nele, tudo era um, com ele. A sua forma era uma reprodução do protótipo divino. Estava destinado a possuir e a gozar a terra e todas as coisas criadas, mas deveria fazê-lo em Deus e por Deus, e em agradecimento à sua bondade. O homem era, no entanto, livre; por isso foi submetido à prova, por isso, foi-lhe proibido comer da Árvore do Conhecimento.
No princípio, tudo era liso e plano. Quando o pequeno monte, a colina brilhante sobre a qual Adão se ergueu, quando foi escavado o vale branco e florido, junto do qual eu vi Eva, o corruptor já estava próximo. Depois da Queda, tudo mudou. Todas as formas de criação foram produzidas em si mesmas, dissipadas em si mesmas. O que era um, tornou-se múltiplo, as criaturas já não olhavam apenas para Deus, cada uma concentrava-se em si própria.
A humanidade, no início, era composta por dois, depois por três e, por fim, tornou-se inumerável. Eram imagens de Deus; mas depois da Queda, tornaram-se imagens de si mesmos, imagens essas originadas no pecado. O pecado colocou-os em comunicação com os anjos caídos. Eles buscaram todo o seu bem no eu, e nas criaturas ao seu redor, com todas as quais os anjos caídos tinham conexão; e dessa mistura interminável, desse afundamento das suas nobres faculdades no eu e na natureza caída, surgiram múltiplas maldades e misérias.
O meu Esposo divino, mostrou-me isto de forma clara, distinta, inteligível, mais claramente do que se veem as coisas da vida quotidiana. Na altura, pensei que uma criança o poderia compreender, mas agora não consigo repetir. Ele mostrou-me todo o plano da Redenção, assim como o modo como devia ser efetuado, e tudo o que Ele próprio tinha feito. Vi que não é correto, dizer que Deus não precisava de se ter feito homem, não precisava de ter morrido por nós na Cruz; que Ele poderia, em virtude da Sua omnipotência, ter-nos redimido de outra forma. Vi que Ele fez o que fez, em conformidade com a Sua própria perfeição infinita, a Sua misericórdia e a Sua justiça; que não há, de facto, necessidade em Deus, Ele faz o que faz, Ele é o que é!

Eu vi Melquisedeque como um anjo e um tipo de Jesus, como um sacerdote na terra; na medida em que o sacerdócio está em Deus, ele era um sacerdote anjo da hierarquia eterna. Vi-o preparar, fundar, edificar e separar a família humana, e agir em relação a ela como um guia. Vi também Enoque e Noé, o que eles representavam, o que eles realizavam. Por outro lado, vi o império do inferno sempre ativo, e as manifestações e efeitos infinitamente variados de uma idolatria terrena, carnal e diabólica. E vi em todas essas manifestações, formas e figuras pestilentas semelhantes, conduzir, por assim dizer, por uma necessidade secreta e inata e por um processo ininterrupto de dissolução, ao pecado e à corrupção.
Assim como vi o pecado, vi as figuras proféticas e prenunciadoras da Redenção que, à sua maneira, eram imagens do poder divino, como o próprio homem à imagem de Deus. Todos me foram mostrados, de Abraão a Moisés, de Moisés aos Profetas, com estavam interligados, e sua referência a tipos semelhantes em nossos próprios dias. Por exemplo, com estas visões do Antigo Testamento, estava ligada a instrução que recebi, sobre a razão pela qual os sacerdotes já não aliviam ou curam, porque não está no seu poder, ou porque agora é efetuado de forma tão diferente do que costumava ser.
Vi esse dom do sacerdócio possuído pelos Profetas, e foi-me mostrado o significado da forma sob a qual ele foi exercido. Vi, por exemplo, a história de Eliseu, a dar o seu bastão a Giezi, para o colocar sobre a criança morta da Sunamita. Nesse bastão, estava espiritualmente, a missão e o poder de Eliseu. Era, por assim dizer, o seu braço, o prolongamento do seu braço. E aqui, eu vi o significado interior e o poder do báculo de um bispo e do cetro de um monarca. Se forem usados com fé, unem de certo modo o bispo e o monarca àquele de quem provêm a sua dignidade, a Deus, distinguindo-os ao mesmo tempo de todos os outros.
Mas a fé de Giezi não era firme, e a mãe pensou, que só através do próprio Eliseu se poderia obter ajuda; e assim, entre o poder de Deus de Eliseu e o seu bastão, intervieram as interrogações da presunção humana, e o bastão não curou. Então, vi Eliseu rezar e estender-se, mão a mão, boca a boca, peito a peito, sobre o menino, e a alma do menino voltou ao seu corpo. Foi-me explicado que esta forma de cura se referia e prefigurava a morte de Jesus. Em Eliseu, pela fé e pelo poder conferido por Deus, abriram-se novamente no homem, todas as vias de graça e expiação que haviam sido fechadas após a Queda: a cabeça, o peito, as mãos e os pés. Eliseu estendeu-se como uma cruz viva e simbólica sobre a cruz morta e fechada da forma do menino, e através da sua oração de fé a vida foi restaurada.
Ele reparava, expiava os pecados que os pais tinham cometido com a cabeça, o coração, as mãos e os pés - pecados que tinham trazido a morte ao seu filho. Lado a lado com o acima exposto, vi imagens das Chagas de Jesus e da Sua morte na Cruz, através das quais tracei a harmonia entre Jesus e o Seu Profeta. Desde a Crucifixão de Jesus, o dom de curar e de reparar, existe em plena medida entre os sacerdotes da Sua Igreja e, em geral, entre os cristãos fiéis; porque na mesma proporção em que vivemos n'Ele e estamos crucificados com Ele, abrem-se-nos essas vias de graça, as Suas Chagas Sagradas. Aprendi muitas coisas sobre a imposição das mãos, a eficácia de uma bênção e a influência exercida pela mão, mesmo à distância - tudo explicado pelo bastão de Eliseu, que simbolizava a mão.
O facto de os sacerdotes dos dias de hoje raramente curarem e abençoarem, foi-me mostrado num exemplo significativo da conformidade com Jesus, da qual dependem todos esses efeitos. Vi três artistas a fazerem figuras de cera. O primeiro usava uma bela cera branca, e era hábil e inteligente, mas era presunçoso, a imagem de Cristo não estava nele, e seu trabalho não tinha valor. O segundo usou cera não tão branca como a do primeiro, a sua indolência e vontade própria estragaram tudo, e não fez absolutamente nada. O terceiro era desajeitado e inábil; mas trabalhou com simplicidade e grande diligência com cera amarela comum. O seu trabalho era excelente, uma semelhança fidedigna, embora as feições fossem grosseiras. Vi pregadores renomados vangloriando-se de sua sabedoria mundana, mas sem nada realizar; enquanto muitos homens pobres e iletrados exercem, apenas pelo poder sacerdotal, o dom da cura e da bênção.
Enquanto tudo isto me era mostrado, parecia-me que estava na escola. O Meu Esposo, fez-me ver como Ele sofreu desde a conceção até à morte, sempre expiando, sempre satisfazendo pelos pecados. Vi isto em visões distintas da Sua vida. Vi também que, pela oração e pela oferta de sofrimentos pelos outros, muitas almas que não fizeram nenhum bem na terra podem converter-se e salvar-se na hora da morte.
Vi também, que os Apóstolos foram enviados para a maior parte da Terra, para esmagar o poder de Satanás e espalhar bênçãos. Foram justamente aquelas regiões, para as quais eles foram, que haviam sido mais profundamente infetadas pelo maligno. Jesus, por meio da Sua perfeita expiação, adquiriu esse poder contra Satanás, para aqueles que receberam ou receberiam Seu Espírito Santo, e assegurou-lhes esse poder para sempre. Foi-me dado a entender, que o poder de retirar várias regiões da Terra do domínio de Satanás, por meio de uma bênção, é significado pelas palavras: “Vós sois o sal da terra”. Pela mesma razão, o sal é um dos ingredientes da água benta.
Vi também, nesta visão, que os castigos pela vida sensual e mundana são escrupulosamente observados. Vi a maldição a seguir à bênção invertida. Vi os pretensos milagres no reino de Satanás. Vi que, a adoração da natureza; a superstição; a magia; o mesmerismo (hipnose); as artes e ciências mundanas, e todos os meios empregados para suavizar a morte, para tornar o pecado atraente, para acalmar a consciência, são praticados com rigorosa exatidão, mesmo com fanatismo, pelos mesmos homens que consideram as cerimónias da Santa Igreja como formas supersticiosas, pelas quais qualquer outra pode ser indiferentemente substituída. E, no entanto, esses homens submetem toda a sua vida e todas as suas ações a certas observâncias cerimoniosas. Só não levam em conta o reino do Homem-Deus, Jesus Cristo. O mundo é servido com perfeição, mas o serviço a Deus é vergonhosamente negligenciado!
Leia o próximo capítulo das Revelações à Beata Ana Catarina Emmerick
Subscreva a nossa newsletter, para receber no seu e-mail os próximos artigos!
Comente - Partilhe - Faça parte do Manto de Maria
Que Deus vos proteja e abençoe por toda a eternidade.
Comments