
Jaculatórias
No vasto tesouro da espiritualidade católica, existem práticas que, devido à sua simplicidade, podem passar despercebidas, mas cuja profundidade tem o poder de transformar a vida espiritual de quem as adota. Uma dessas práticas, é a das jaculatórias: pequenas orações cheias de amor, fé e devoção, que têm sido um pilar da tradição cristã por séculos. Mas o que exatamente são as jaculatórias, de onde vêm e como podem ajudar você a fortalecer sua vida espiritual no ritmo acelerado da vida moderna? Nesta página, exploraremos sua história, significado teológico, relevância prática e alguns exemplos.
Explore o que pode encontrar nesta página:
O que são Jaculatórias?
O termo “jaculatória” vem do latim iaculum, que significa “dardo” ou “flecha”. Este nome é altamente simbólico, pois as jaculatórias são como pequenas flechas que lançamos em direção ao céu — orações breves, que surgem do coração e vão diretamente a Deus. Essas frases, muitas vezes de apenas uma linha, encapsulam um profundo desejo de comunicação com Deus, seja para louvá-lo, pedir sua ajuda ou simplesmente expressar amor e gratidão. Um exemplo clássico de jaculatória é a invocação: «Jesus, eu confio em Vós.», tem origem na Devoção à Divina Misericórdia, que se espalhou pelo mundo a partir das revelações de Santa Faustina Kowalska, uma freira polaca do século XX. Este tipo de oração, é curta, mas profundamente significativa, e pode ser repetida ao longo do dia, tornando-se uma espécie de respiração espiritual, que nos conecta com Deus em qualquer momento e lugar.
História e origem das Jaculatórias
Dos Padres da Igreja à Devoção Popular
A prática das jaculatórias, tem raízes profundas na tradição cristã. Os Padres do Deserto, nos primeiros séculos do cristianismo, já utilizavam breves orações repetitivas para manter suas mentes fixas em Deus. Uma das mais antigas é a “Oração de Jesus”, que diz: «Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tende piedade de mim, pecador.» Esta oração é inspirada nas passagens do Novo Testamento de Lucas 18, 13 – A oração do publicano: «Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador»; e Lucas 18, 38 – Em que o cego de Jericó clama: «Jesus, Filho de David, tem piedade de mim!» Consolidou entre os monges do deserto do Egito e mais tarde no Monte Athos (Grécia), como prática central do movimento hesicasta (séculos IV a XIV), que buscava a oração contínua e a união com Deus, através da interiorização e do silêncio (hesychía = “quietude”). Esta prática, envolvia repetir a Oração de Jesus de forma contínua, como uma espécie de “respiração espiritual”, muitas vezes sincronizada com a respiração ou com os batimentos cardíacos. Ao ser frequentemente repetida, tornou-se central na espiritualidade oriental.
Na tradição ocidental, as jaculatórias ganharam força durante a Idade Média e o Renascimento. Místicos como Santa Teresa de Ávila e São João da Cruz, promoveram o uso de orações curtas, como meio de manter constante união com Deus. Mais tarde, na era moderna, o Papa Pio IX incentivou os fiéis a recitarem jaculatórias, especialmente as dedicadas ao Sagrado Coração de Jesus e `muito usadas na oração do Rosário (Terço).
Aprovação e Indulgências
A Igreja Católica reconheceu formalmente as jaculatórias, como uma poderosa ferramenta devocional. Em muitos casos, certas jaculatórias específicas receberam indulgências, um dom espiritual que reduz o tempo de purificação no Purgatório, para quem as recita com fé, o que sublinha, o valor inestimável desta prática na vida do cristão.
Relevância teológica das Jaculatórias
Oração Contínua: Um Mandamento Bíblico
As jaculatórias encarnam o mandamento bíblico de “orar sem cessar” (1 Tessalonicenses 5, 17). Embora muitas vezes pensemos na oração como algo que exige tempo e concentração, as jaculatórias, lembram-nos de que nossa comunicação com Deus, pode ser constante e simples, mesmo no meio das atividades diárias. Na teologia, as jaculatórias também refletem o princípio lex orandi, lex credendi (“a lei da oração é a lei da fé”). Estas breves orações, não expressam apenas nossa fé, mas também a fortalecem e moldam. Ao repetir frases como «Ave Maria, cheia de graça», meditamos sobre o mistério da Encarnação e aprofundamos nossa devoção à santíssima Virgem Maria.
Espiritualidade do Coração
As jaculatórias são especialmente relevantes na espiritualidade do coração. Por serem orações simples e espontâneas, convidam a um diálogo íntimo com Deus, que nasce do amor e da confiança. Esta prática, fomenta uma relação pessoal com o Senhor, que não está limitada a rituais formais, mas se estende a cada momento da nossa vida.
Como incorporar as Jaculatórias no dia-a-dia?
Num mundo cheio de distrações, as jaculatórias são uma ferramenta poderosa para manter a conexão com Deus. Mas há algumas formas práticas de as integrarmos na nossa rotina:
Ao acordar: Devemos começar o dia depositando a nossa total confiança em Deus. Por exemplo:
Ex: «Senhor, entrego em vossas mãos este dia.»
Durante o trabalho: Sempre que nos sentirmos atribulados, podemos dizer uma jaculatória para encontrar calma e força.
Ex: «Meu Deus, eu confio em Vós»
Antes de iniciar uma atividade:
Ex: «Abençoai, Senhor, as nossas ações e ajudai-nos a realiza-las, para que em Vós comece para Vós termine, tudo aquilo que fizermos. Por Cristo Senhor Nosso. Ámen.»
Ao conduzir o seu automóvel:
Ex: «Senhor, protege-me e guia-me pelo caminho certo.»
Antes das refeições, em família: Antes de comer, pode e deve dar graças pelo alimento recebido.
Ex: «Abençoai, Senhor, este alimento que vamos tomar, para melhor Vos servir a mar.», e termina com um Glória ao Pai. É tão simples, que podemos ensiná-la até às crianças mais pequenas.
Ao deitar: Podemos e devemos terminar o dia com contrição e agradecimento.
Ex: «Obrigado, Senhor, por todas as bênçãos recebidas no meu dia.»
Ex: «Obrigada, Bom Jesus, pelo Vosso grande amor, perdoai o mal que eu fiz e ajudai-me a ser melhor.»
Ex: «Encosto-me à cama, encosto-me à Cruz, entrego a minha alma ao Menino Jesus.»
Utilize ajuda visual
Para não se esquecer de recitar as suas jaculatórias favoritas, coloque imagens, crucifixos, tenha-as escritas em locais visíveis, como a sua mesa de refeição, no carro, na sua mesa de cabeceira, secretária, numa T-Shirt, ou até mesmo num grande quadro na sala de estar. Sempre que olhar para elas, irá lembrar-se de recitar a sua jaculatória Isso cria um ambiente espiritual em sua casa ou no seu local de trabalho, e pode ainda convidar outras pessoas a fazerem o mesmo.
As Jaculatórias na era digital
Devemos usar todos os recursos digitais disponíveis, para nos ajudar a elevar a Deus e a levá-l'O aos nossos irmãos. Pensando nisto, pode configurar alarmes no telemóvel com as frases das jaculatórias ou partilhá-las nas suas redes sociais, para inspirar e incentivar outras pessoas. Até mesmo uma jaculatória simples como «Que Deus te abençoe!», pode fazer toda a diferença no dia de alguém, e tornar-se uma semente de esperança.
Quais os benefícios espirituais das Jaculatórias?
1. Santificação do tempo e do quotidiano
As jaculatórias, permitem que a alma eleve constantemente o coração a Deus, santificando os momentos mais ordinários do dia-a-dia. Elas cumprem a exortação de São Paulo, na sua carta aos Tessalonicenses (1 Ts 5, 17), que dizia «Orai sem cessar.» Por isso, elas dão-nos uma noção de conversatio continua com Deus, um ideal da vida monástica e mística: a transformação contínua da existência em oração.
2. Invocação do Santo Nome de Jesus
Muitas jaculatórias, como «Jesus, Filho de David, tem piedade de mim!» ou simplesmente «Jesus!», estão centradas no Santíssimo Nome de Jesus. «Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.» (Rm 10, 13)
Segundo a teologia patrística, especialmente nos escritos dos Padres do Deserto e da tradição hesicasta, o Santíssimo Nome de Jesus, tem poder salvífico e purificador. A repetição reverente do Santíssimo Nome de Jesus, leva à presença contínua de Deus na alma. Contudo, devemos lembrar, que por se tratar de um Nome Santo, não pode ser invocado em vão ou de forma leviana, caso contrário, cometemos um pecado mortal (grave), por infringirmos o segundo Mandamento da Lei de Deus que diz: «Não invocar o Santo Nome de Deus em vão.» (Ex 20, 7; Dt 5, 11) (CIC §2146)
3. Purificação do coração
As jaculatórias, funcionam como flechas (do latim iaculum) lançadas ao Céu, que também penetram o nosso coração, purificando-o das paixões e distrações. Santo Agostinho (Confissões e Enarrationes in Psalmos) e São João Cassiano (Conferências), falam da oração breve como instrumento para dominar os pensamentos errantes e manter a alma em recolhimento.
4. Exercício de humildade e de abandono em Deus
Jaculatórias como: «Senhor, tende piedade de mim, pecador!» são expressões profundas de humildade. Elas recordam-nos a nossa total dependência da graça divina, e a consequente necessidade vital de nos abandonarmos à sua misericórdia e providência. A teologia mística, vê nestas invocações o eco da kenosis de Cristo (Fl 2, 5-11), e ao imitá-lo, despimo-nos da nossa soberba, para nos revestirmos da Misericórdia Divina.
5. Arma espiritual contra as tentações
As jaculatórias, são também tradicionalmente utilizadas como defesa espiritual. Os Padres do Deserto (em Apophthegmata Patrum), recomendavam a oração contínua como escudo contra os logismoi (pensamentos maus). São Bernardo de Claraval e Santo Inácio de Loyola (em Exercícios Espirituais), também indicavam orações breves como auxílio no combate espiritual.
6. Estreitamento da intimidade com Deus
Ao repetir as jaculatórias com amor e atenção, a alma torna-se mais sensível à presença de Deus. Isto corresponde a um dinamismo da oração afetiva, em que o amor prevalece sobre a razão discursiva. Santa Teresa de Ávila (em Caminho de Perfeição e Livro da Vida), recomendava orações breves feitas com “grande fervor”, porque despertam o afeto e a atenção do coração, cultivando uma amizade viva com o Senhor.
7. Integração da liturgia na vida pessoal
Embora sejam orações simples e pessoais, muitas jaculatórias têm origem na liturgia ou nas Sagradas Escrituras (por exemplo, o Kyrie eleison ou o Veni Sancte Spiritus). Por isso, se as usarmos durante o dia, ligamos a nossa oração pessoal à oração da Igreja universal, harmonizando o nosso interior com o Corpo Místico de Cristo (a Igreja).
8. Maior facilidade no acesso à Graça de Deus
Como são simples e fáceis de memorizar, as jaculatórias tornam a vida de oração acessível, mesmo aos mais simples, analfabetos como as crianças pequenas, ou em momentos de aflição. Elas são “sacramento da atenção” — pequenas vias de acesso à Graça, que podem ser pronunciadas até com um suspiro.
Exemplos de Jaculatórias
Jaculatórias a Deus Pai
«Senhor, dai-me a graça de que eu nunca Vos ofenda.»
Santo Afonso Maria de Ligório, especialmente nas suas Visitas ao Santíssimo Sacramento, dizia frequentemente frases como: “Senhor, não permitais que eu mais Vos ofenda.”
Santa Teresinha do Menino Jesus, repetia com frequência: “Meu Deus, fazei com que eu Vos ame tanto, que eu nunca mais Vos ofenda.”
«Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-vos perdão por aqueles que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam.»
Evoca as três virtudes teologais (Fé, Esperança e Caridade) e remete para a Reparação do Sagrado Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria. Foi ensinada pelo Anjo da Paz (também chamado de Anjo de Portugal) aos três pastorinhos em Fátima — Lúcia, Jacinta e Francisco — em 1916, um ano antes das aparições de Nossa Senhora do Rosário de Fátima. Por isso, é muito utilizada na recitação do Santo Rosário (Terço).
«Senhor, seja feita a Vossa Santíssima Vontade.»
Esta jaculatória, remete-nos para as palavras de Jesus no Getsêmani (Lc 22, 42) e para a Oração do Pai-Nosso (Mt 6, 10).
São Francisco de Sales (séc. XVII), ensinava que o maior ato de amor é desejarmos realizar a vontade de Deus em tudo. Ele dizia que a santidade consiste em unir a nossa vontade à vontade de Deus. (Tratado do Amor de Deus e Introdução à Vida Devota)
Jaculatórias a Jesus Cristo
«Ó meu bom Jesus! Perdoai-nos e livrai-nos do fogo do inferno. Levai as almas para o céu e socorrei, principalmente, as que mais precisarem.»
Foi ensinada por Nossa Senhora do Rosário de Fátima aos três crianças pastorinhos — Lúcia, Francisco e Jacinta — durante a Sua aparição a 13 de julho de 1917. Durante essa aparição, e depois de mostrar às crianças uma visão do inferno, Nossa Senhora disse: ❝Quando rezardes o Terço, dizei depois de cada Mistério: ‘Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno; levai as almas todas para o Céu, principalmente aquelas que mais precisarem."❞ (Memórias da Irmã Lúcia). Assim, esta jaculatória passou a ser acrescentada ao fim de cada dezena do Rosário, Terço), e é hoje uma prática comum em todo o mundo., sendo amplamente difundida, aprovada e encorajada por Papas como São João Paulo II.
«Vos adoramos, ó Cristo, e Vos bendizemos porque com a Vossa Santa Cruz remistes o mundo.»
É amplamente utilizada na oração da Via-Sacra (Via Crucis) e reflete a espiritualidade centrada na Paixão redentora de Cristo. - Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi, quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum. Aparece pela primeira vez na liturgia franciscana medieval (séc. XIII), com raízes em São Francisco de Assis. A versão original e mais longa da jaculatória, é atribuída ao próprio São Francisco de Assis: “Adoramo-Vos, Senhor Jesus Cristo, aqui e em todas as vossas igrejas que há no mundo inteiro, e Vos bendizemos, porque pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.”
«Ó Sangue e Água, que jorraste do Coração de Jesus como fonte de Misericórdia para nós, eu confio em Vós.» e «Jesus, eu confio em Vós!»
Provêm diretamente das revelações místicas de Jesus a Santa Faustina Kowalska, apóstola da Divina Misericórdia, na Polónia do século XX. Estas jaculatórias, estão registada no seu Diário, e foram ditada por Jesus a Santa Faustina numa das suas muitas experiências místicas. Jesus disse a Santa Faustina: ❝Sempre que ouvires o relógio bater às três horas, mergulha-te toda na Minha misericórdia... nessa hora obtiveste tudo para ti e para os outros. [...] Pela tua súplica, nada recusarei à alma que Me pedir pela Minha Paixão.❞ Pouco depois, ela escreve: “Ó Sangue e Água, que jorrastes do Coração de Jesus como fonte de misericórdia para nós, eu confio em Vós.” (Diário, §187). Estas jaculatórias, estão profundamente ligadas ao Terço da Misericórdia (ás 15h) e ao Mistério da Paixão de Cristo.
«Sagrado Coração de Jesus, que tanto nos amais, fazei que eu Vos ame cada vez mais.»
Esta jaculatória está intimamente ligada às revelações recebidas por Santa Margarida Maria Alacoque, religiosa da Ordem da Visitação em Paray-le-Monial, França. Jesus mostrou-lhe o Seu Coração, ardente de amor pela humanidade, e expressou o desejo de ser mais amado em retorno. ❝Eis o Coração que tanto amou os homens, e nada poupou até se esgotar e consumir para lhes testemunhar o seu amor, e em recompensa, não recebo da maior parte senão ingratidões...❞ (Santa Margarida Maria, 1675).
Mas também tem um fundamento bíblico: «Nós amamos, porque Ele nos amou primeiro.» (1 Jo 4,1 9)
«Jesus, manso e humilde de Coração, fazei o nosso coração semelhante ao Vosso.»
Esta jaculatória tem origem direta nas palavras do próprio Jesus no Evangelho: «Aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas.» (Mt 11, 29) Esta frase, é a base da oração de invocação ao Sagrado Coração de Jesus, muitas vezes rezada nas ladainhas, horas santas ou durante a Primeira Sexta-Feira do mês.
Jaculatórias a Jesus Sacramentado
«Graças e louvores se deem a todo momento, ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento.»
É frequentemente atribuída à tradição espiritual franciscana, principalmente por meio de São Francisco de Assis e dos seus seguidores, que tinham uma grande devoção à Eucaristia. Foi popularizada em muitas partes do mundo, especialmente através da Hora Santa (iniciada por São Pedro Julião Eymard, outro grande apóstolo da Eucaristia) e durante a bênção do Santíssimo Sacramento, onde é frequentemente repetida.
«Jesus sacramentado, nosso Deus Amado.»
Embora não se conheça um autor ou data exata para o surgimento desta jaculatória, mas sabemos que no contexto da renovação da devoção eucarística promovida por santos como São Pedro Julião Eymard (fundador dos Sacramentinos) e Santa Teresinha do Menino Jesus, houve uma intensificação de expressões de amor e ternura a Jesus no Santíssimo Sacramento. Muitas jaculatórias simples e afetivas como esta foram promovidas nesse contexto.
«Ó Jesus Sacramentado, esposo e coroa das virgens! Abrasai-me no fogo que viestes à luz na Terra, para que o meu coração se torne uma fogueira ardente de amor por ti, e comunique este fogo divino às almas dos meus irmãos.»
Esta jaculatória, não tem uma autoria oficialmente conhecida e registada em documentos magisteriais ou litúrgicos, mas a expressão «esposo e coroa das virgens» é típica da espiritualidade de santas místicas, como Santa Gertrudes, Santa Catarina de Siena, Santa Teresa d’Ávila ou Santa Teresinha do Menino Jesus, que frequentemente se referiam a Jesus como Esposo das almas consagradas.
Jaculatórias à Santíssima Trindade
«Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, assim como era no princípio, agora e sempre. Ámen»
Esta jaculatória, - também conhecida como doxologia menor — tem uma origem muito antiga na tradição cristã, que remonta aos primeiros séculos da Igreja. No século IV, a doxologia menor começou a ser amplamente usada nas liturgias e orações cristãs, em particular, depois dos Concílios de Niceia (325) e Constantinopla (381), que definiram com clareza a doutrina da Trindade, afirmando a glória eterna e indivisa das três Pessoas divinas.
A forma básica «Gloria Patri, et Filio, et Spiritui Sancto...» já era usada no Ofício Divino (Liturgia das Horas) desde os tempos patrísticos, especialmente entre monges e no rito romano. O acréscimo «sicut erat in principio, et nunc, et semper, et in saecula saeculorum. Amen» (em português: «assim como era no princípio, agora e sempre, e pelos séculos dos séculos. Ámen») é uma expressão de eternidade e continuidade, reforçando que a glória da Trindade é imutável.
É utilizada na Liturgia, na Liturgia das Horas - recitada ao fim de cada salmo e cântico, na oração do Santo Rosário, - rezada ao final de cada dezena. É também muito usada como jaculatória devocional, frequentemente para encerrar os momentos de oração.
Jaculatórias à Santíssima Virgem Maria
«Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós.»
Foi revelada por Nossa Senhora das Graças a Santa Catarina Labouré, durante uma aparição a 27 de novembro de 1830, em Paris, França, na Capela das Filhas da Caridade da Rue du Bac. Santa Catarina Labouré, noviça das Filhas da Caridade, foi visitada várias vezes pela Santíssima Virgem Maria. Numa dessas visitas, Nossa Senhora das Graças apareceu sobre um globo, com raios que saíam das suas mãos, e rodeada por uma inscrição luminosa, que dizia: «Ô Marie, conçue sans péché, priez pour nous qui avons recours à vous» (Francês original da jaculatória). Nossa Senhora, pediu que esta fosse colocada ao redor de uma medalha que hoje conhecemos como a Medalha Milagrosa. O Dogma da Imaculada Conceição, seria proclamado oficialmente 24 anos depois, em 1854, pelo Papa Pio IX.
«Vede, ó Jesus, que são lágrimas d’Aquela que mais Vos amou na Terra e mais Vos ama no Céu.» e «Ó Virgem dolorosíssima! As Vossas lágrimas derrubaram o império infernal.»
Ambas as jaculatórias, têm origem nas revelações privadas de Nossa Senhora à Irmã Amália de Jesus Flagelado, em 1930, no Brasil. Estão associadas à devoção mariana a Nossa Senhora das Dores e são parte integrante do Rosário das Lágrimas, aprovado pelo bispo local.
«Maria, que entrastes no mundo sem mancha, obtende-me de sair dele sem culpa.»
Surgiu provavelmente no contexto da espiritualidade mariana pós-tridentina e difundida principalmente no século XIX, depois da definição do dogma da Imaculada Conceição em 1854. Não tem um autor identificado, mas está documentada em diversos devocionários católicos e reflete uma súplica piedosa à Virgem Imaculada para obter uma morte em estado de graça.
«Nossa Senhora da Divina Providência, providenciai.»
Deriva da devoção a Nossa Senhora da Divina Providência, promovida especialmente pelos religiosos barnabitas desde o século XVIII. A frase consolidou-se como expressão de confiança filial na intercessão de Maria nas necessidades da vida, especialmente a partir do século XX, e é amplamente utilizada em orações e novenas em todo o mundo.
Jaculatórias à Sagrada Família e a Jesus e Maria
«Louvado seja Nosso Senhor Cristo. Para sempre seja louvado e Sua Mãe Maria Santíssima.»
Esta fórmula simples, não tem um autor conhecido, mas já aparece em livros devocionais e catecismos, pelos menos desde o século XVIII. Na piedade católica tradicional, ela reflete o forte vínculo entre a devoção a Jesus e a devoção a Maria.
«Jesus, Maria, amo-Vos, salvai almas»
Tem origem nas revelações privadas que Jesus fez à Irmã Consolata Betrone, religiosa capuchinha (1903–1946), em Turim, Itália. Jesus disse à Irmã Consolata: «Uma jaculatória salva mil almas.» «Diz: ‘Jesus, Maria, amo-Vos, salvai almas’ — nesta oração está tudo.» As revelações estão documentadas na obra "Jesus apela ao mundo" (Gesù ti parla, em italiano), escrita pelo Padre Lorenzo Sales, seu diretor espiritual e postulador da causa para a sua beatificação.
Jaculatórias a São José
«Patriarca São José, rogai por nós!»
É uma invocação simples, tradicional e amplamente difundida, com raízes que remontam aos séculos XVII e XVIII, quando a devoção a São José começou a crescer na Igreja. Embora seja difícil identificar um autor específico, a invocação segue a forma clássica das ladainhas, especialmente a Ladainha de São José, aprovada oficialmente pelo Papa Pio X em 1909. Nessa ladainha, encontramos várias invocações similares: «São José, rogai por nós.»; «Chefe da Sagrada Família, rogai por nós.»; «José, fidelíssimo guardião da Virgem, rogai por nós.» Estas jaculatórias são comuns nas novenas de São José (especialmente em março), em orações diárias de consagração à Sagrada Família ou à São José, e no contexto de orações pela família, trabalho e proteção espiritual.
A forma «Patriarca São José, rogai por nós!» é uma variação devocional espontânea, que reconhece a autoridade espiritual e familiar de São José como chefe da Sagrada Família, ou seja, um verdadeiro "patriarca" à semelhança dos grandes patriarcas do Antigo Testamento — como Abraão, Isaac e Jacó. São José é o chefe terreno da Sagrada Família, guardião de Jesus e esposo da Virgem Maria. Ele é o modelo de pai, de trabalhador, de protetor da Igreja — como reconhecido por inúmeros papas. O Papa Pio IX, em 1870, proclamou São José Padroeiro Universal da Igreja, fortalecendo ainda mais essa imagem patriarcal.
Jaculatórias a São Miguel Arcanjo
«São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate!»
Esta jaculatória é o primeiro verso de uma oração de origem papal e reconhecida pela Igreja, que sintetiza séculos de devoção a São Miguel Arcanjo, guerreiro e protetor, e tornou-se uma das mais queridas invocações católicas de proteção espiritual.
É o início da famosa oração a São Miguel Arcanjo, composta pelo Papa Leão XIII no final do século XIX. Esta oração foi, durante muito tempo, rezada depois da Missa, especialmente no rito tridentino. Depois de celebrar a Santa Missa, o Papa Leão XIII teve uma visão espiritual intensa, onde ouviu uma conversa entre Cristo e Satanás, na qual o demónio pedia tempo e poder para tentar destruir a Igreja. Profundamente impressionado, Leão XIII retirou-se e compôs a oração a São Miguel. Por isso, a oração foi instituída como uma invocação de proteção contra os ataques do mal, especialmente contra as forças espirituais contrárias à Igreja. Passou a ser usada isoladamente como invocação breve e poderosa, principalmente em momentos de tentação ou tribulação espiritual; no início das orações de libertação ou de exorcismo, ou devoções particulares a São Miguel, como a Coroa Angélica ou em Novenas a São Miguel Arcanjo.