O Antigo Testamento: O pecado dos nossos primeiros pais - Parte V
- Cláudia Pereira
- 15 de abr.
- 7 min de leitura
Atualizado: há 6 dias
A Beata Ana Catarina Emmerick (em alemão: Anna Katharina Emmerich), nasceu em 8 de setembro de 1774 em Coesfeld e faleceu em 09 de fevereiro de 1824 em Dülmen na Alemanha. Foi uma freira agostiniana, grande mística e estigmatizada, elevada aos altares pelo Papa São João Paulo II a 3 de outubro de 2004.
O pecado dos nossos primeiros pais
Visões da Beata Catarina Emmerick
Parte V - O pecado dos nossos primeiros pais
Vi pela primeira vez Adão e Eva a caminhar pelo Paraíso. Os animais corriam ao seu encontro e seguiam-nos, mas pareciam estar mais familiarizados com Eva do que com Adão. Eva estava, de facto, mais ocupada com a Terra e com as coisas criadas. Ela olhava para baixo e para os lados, com mais frequência do que Adão. Parecia ser a mais curiosa dos dois. Adão era mais silencioso, mais absorvido por Deus.
Entre os animais, havia um que seguia Eva, mais de perto do que os outros. Era uma criatura singularmente gentil e encantadora, embora astuta. Não conheço nenhum outro com o qual o possa comparar. Era esguio e lustroso, e parecia não ter ossos. Caminhava ereto sobre as suas curtas patas traseiras, com a cauda pontiaguda a arrastar-se no chão. Perto da cabeça, que era redonda e com uma cara extremamente astuta, tinha pequenas patas curtas, e a sua língua astuta estava sempre em movimento. A cor do pescoço, do peito e da parte de baixo do corpo era amarelo pálido e, na parte de trás, era castanho mosqueado, muito semelhante ao de uma enguia. Era quase tão alto como uma criança de dez anos. Estava constantemente à volta de Eva, e era tão persuasivo e inteligente, tão ágil e flexível, que ela ficou muito contente com ele.
Mas para mim havia algo de horrível nele. Ainda hoje o vejo nitidamente. Nunca o vi tocar nem em Adão nem em Eva. Antes da Queda, a distância entre o homem e os animais inferiores era grande, e nunca vi os primeiros seres humanos tocarem em nenhum deles. É verdade que tinham mais confiança no homem, mas mantinham-se a uma certa distância dele.
Quando Adão e Eva regressaram à região da luz resplandecente, um vulto radiante, semelhante a um homem majestoso, com cabelos brancos e brilhantes, estava diante deles. Apontou em volta e, em poucas palavras, parecia entregar-lhes todas as coisas e ordenar-lhes algo. Eles não pareciam intimidados, mas ouviam-no com naturalidade. Quando ele desapareceu, eles pareciam mais satisfeitos, mais felizes. Pareciam compreender melhor as coisas, encontrar mais ordem nas coisas, pois agora sentiam gratidão, mais Adão do que Eva. Ela pensava mais na sua felicidade atual e nas coisas que os rodeavam, do que em agradecer por elas. Ela não descansava em Deus, tão perfeitamente como Adão, a sua alma estava mais ocupada com as coisas criadas. Penso que Adão e Eva deram três voltas ao Paraíso.
Voltei a ver Adão, na colina resplandecente sobre a qual Deus tinha formado a mulher, a partir de uma costela do seu lado, enquanto ele jazia enterrado no sono. Ele estava sozinho sob as árvores, perdido em gratidão e admiração.
Vi Eva perto da Árvore do Conhecimento, como se estivesse prestes a passar por ela, e com ela, aquele mesmo animal, mais astuto, lisonjeiro e ágil do que nunca. Eva estava encantada com a serpente; tinha grande prazer nela. A serpente subiu correndo pela Árvore do Conhecimento até que a sua cabeça se alinhou com a dela. Depois, agarrando-se ao tronco com as patas traseiras, moveu a cabeça na direção da dela e disse-lhe que, se ela comesse do fruto daquela árvore, deixaria de ser servil, tornar-se-ia livre e compreenderia como se devia efetuar a multiplicação da raça humana.
Adão e Eva já tinham recebido a ordem de aumentar e multiplicar-se, mas eu compreendi que eles ainda não sabiam como Deus queria que isso acontecesse. Vi também que, se o tivessem sabido e tivessem pecado depois de o saberem, a Redenção não teria sido possível. Eva ficou agora mais pensativa. Parecia estar movida pelo desejo do que a serpente prometera. Algo de degradante se apoderou dela e isso fez-me sentir ansiosa. Olhou para Adão, que continuava quieto, debaixo das árvores. Chamou-o, e ele veio.
Eva começou a ir ao seu encontro, mas voltou atrás. Havia uma inquietação, uma hesitação nos seus movimentos. Começou de novo, como se pretendesse passar pela árvore, mas mais uma vez hesitou, aproximou-se dela pela esquerda e ficou atrás dela, protegida pelas suas folhas longas e pendentes. A árvore era mais larga em cima do que em baixo, e os seus ramos largos e frondosos caíam até ao chão. Mesmo ao alcance de Eva, estava pendurado um cacho de frutos extraordinariamente fino. Adão aproximou-se, Eva agarrou-o pelo braço e apontou para o animal falante, e Adão ouviu as suas palavras. Quando Eva pôs a mão no braço de Adão, tocou-o pela primeira vez. Ele não lhe tocou, mas o esplendor à volta deles diminuiu.
Vi o animal a apontar para o fruto, mas não se atreveu a tirá-lo para Eva. Mas, quando o desejo pelo fruto surgiu no coração dela, a serpente despendeu e entregou-lhe o pedaço central e mais belo dos cinco agrupados. Depois, vi Eva aproximar-se de Adão e oferecer-lhe o fruto. Se ele o tivesse recusado, o pecado não teria sido cometido. Vi o fruto partir-se, por assim dizer, na mão de Adão. Ele viu imagens nele, e foi como se ele e Eva fossem instruídos sobre o que não deveriam saber.
O interior do fruto era vermelho-sangue e cheio de veias. Vi Adão e Eva perderem o seu brilho e diminuírem de estatura. Era como se o sol se tivesse posto. O animal deslizou pela árvore, e eu vi-o a fugir de quatro. Não vi o fruto a ser levado à boca como hoje levamos o alimento ao comer, mas desapareceu entre Adão e Eva. Vi que, enquanto a serpente ainda estava na árvore, Eva pecou, porque o seu consentimento estava com a tentação. Aprendi também naquele momento, o que não posso repetir claramente, ou seja, que a serpente era, por assim dizer, a personificação da vontade de Adão e Eva, um ser pelo qual eles podiam fazer todas as coisas, podiam alcançar todas as coisas. Foi dentro desta vontade (em figura), que entrou Satanás.

O pecado não se completou com a ingestão do fruto proibido. Mas o fruto da árvore que, enraizando os seus ramos na terra, emitia assim novos rebentos, e que continuava a fazê-lo depois da queda, transmitia a ideia de uma propagação mais absoluta, de uma implantação sensual em si mesmo à custa da separação de Deus. Assim, juntamente com a desobediência, nasceu da sua indulgência essa separação da criatura de Deus, essa plantação em si e através de si, e essas paixões egoístas na natureza humana. Aquele que usa o fruto apenas pelo prazer que ele proporciona, deve aceitar como consequência do seu ato a subversão, a degradação da natureza, bem como o pecado e a morte.
A bênção de uma multiplicação pura e santa de Deus e por Deus, que Adão recebera após a criação de Eva, foi, em consequência dessa indulgência, retirada dele; pois vi que, no instante em que Adão deixou a sua colina para ir ter com Eva, o Senhor agarrou-o pelas costas e tirou-lhe algo. A partir daí, senti que a salvação do mundo viria.
Uma vez, na Festa da Imaculada Conceição de Maria, Deus deu-me uma visão deste mistério. Vi encerrada em Adão e Eva, a vida corporal e espiritual de toda a humanidade. Vi que, com a Queda, ela se corrompeu, misturou-se com o mal, e que os anjos maus adquiriram poder sobre ela. Vi a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, descer e, com algo parecido com uma lâmina torta, tirar a Bênção de Adão antes de ele ter pecado. No mesmo instante, vi a Virgem sair do lado de Adão como uma pequena nuvem luminosa, e subir toda resplandecente até Deus.
Ao receberem o fruto, Adão e Eva ficaram, por assim dizer, intoxicados, e seu consentimento ao pecado operou neles uma grande mudança. Era a serpente que estava neles. A sua natureza impregnou a deles, e então surgiu o joio no meio do trigo. Como castigo e reparação, foi instituída a circuncisão. Assim como a videira é podada para que não corra solta, não se torne azeda e infrutífera, assim deve ser feito com o homem, para que ele recupere a perfeição perdida.
Uma vez, quando a reparação da culpa me foi mostrada em imagens simbólicas, vi Eva, no ato de sair do lado de Adão, e mesmo assim estendendo o pescoço para o fruto proibido. Correu rapidamente para a árvore e agarrou-a nos braços. Num quadro oposto, vi Jesus nascido da Virgem Imaculada. Correu diretamente para a Cruz e abraçou-a. Vi a descendência, obscurecida e arruinada por Eva, mas novamente purificada pela Paixão de Jesus. Pelas dores da penitência, o prazer proibido da carne, deve ser extirpado da carne. A palavra da Epístola (Gálatas 4, 30-31), que diz que o filho da serva não será co-herdeiro, eu sempre entendi como sendo a carne e a sujeição servil a ela, tipificada sob a figura da serva.
«Mas que diz a escritura? Expulsa a escrava e o seu filho, porque o filho da escrava não poderá herdar juntamente com o filho da mulher livre. Por isso, irmãos, não somos filhos da escrava, mas da mulher livre.»
O matrimónio é um estado de penitência. Exige abnegação, oração, jejum, a necessidade de dar esmola e de ter a intenção de aumentar o reino de Deus com os filhos.
Leia o próximo capítulo das Revelações à Beata Ana Catarina Emmerick
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Que Deus vos proteja e abençoe por toda a eternidade.
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