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A Entronização do Sagrado Coração de Jesus é o pilar da Igreja doméstica

  • Cláudia Pereira
  • 11 de jun.
  • 10 min de leitura

Atualizado: 13 de jun.

Numa homilia proferida em Chartres, na segunda-feira de Pentecostes de 2015, Sua Excelência o Bispo Athanasius Schneider, ofereceu aos peregrinos ali reunidos, uma análise do desafio mais premente que a Igreja enfrenta atualmente, bem como uma estratégia para o enfrentar e, com a graça de Deus, para o dominar.

«No nosso tempo, a família natural e a família cristã, tornaram-se o principal objeto de ataque para a destruição do mundo civilizado, pela ideologia neomarxista do género. Paradoxalmente, estamos a viver a era da família, precisamente porque ela está a ser atacada. É hoje, que a família é chamada a testemunhar a beleza divina da sua essência e da sua vocação.»

Monsenhor Schneider, falou longamente sobre a vocação da família católica e sobre a importância de estabelecer, aquilo a que repetidamente se referiu como, a “igreja doméstica” - uma noção que, apesar de ter raízes profundas no património católico, só se tornou parte do vocabulário ativo da Igreja, depois da promulgação da Constituição Dogmática Lumen Gentium, que é usada para descrever a família, como o contexto humano no qual encontramos pela primeira vez a fé católica.

Uma vez que, a sua própria família se encontrava entre as que suportaram uma intensa perseguição na União Soviética, ferozmente anti-católica, o Bispo Schneider está eminentemente qualificado para falar sobre o tema da Igreja doméstica. Como ele relata no seu livro Dominus Est, foi em grande parte, devido à existência de uma rede clandestina de famílias - particularmente as suas corajosas mães - que a Fé sobreviveu à opressão assassina daqueles tempos sombrios. Vista no contexto da sua experiência pessoal, a urgência da mensagem de Monsenhor Schneider torna-se clara: para sobreviver à próxima grande vaga de perseguição, a Igreja tem de dar prioridade ao estabelecimento de igrejas domésticas.



O que é a Igreja Doméstica?


O que é uma igreja doméstica e como é que ela é estabelecida? Para responder a estas questões importantes, é útil rever três componentes vitais da igreja doméstica:

  • O matrimónio sacramental;

  • O lar abençoado;

  • A família consagrada.


consagração no matrimónio

O Matrimónio Católico

O fim perfeito do matrimónio católico, não é meramente a geração de filhos, mas sim a criação de filhos para a glória de Deus, um processo referido por Santo Agostinho, como “regeneração”. Isto contrasta e completa, a simples “geração” de descendência desejada pelos pagãos, porque o matrimónio católico não tem como objetivo, propagar apenas o género humano e suscitar herdeiros segundo a carne, mas sim, suscitar filhos e filhas para o Deus vivo segundo o espírito. Este, é um dos significados mais profundos - e muitas vezes esquecido - da elevação do matrimónio a Sacramento, por Nosso Senhor: através do matrimónio natural, acrescentamos pessoas ao reino dos homens; através do matrimónio sacramental, participamos na adição de almas ao Reino de Deus.


O lar abençoado

Do mesmo modo, a casa católica não é apenas um domicílio material, ou seja, um lugar onde se come e dorme e se atende às outras necessidades do corpo. Na verdade, a casa, o edifício físico em que residimos é pouco mais do que um armazém “onde a ferrugem e a traça consomem, e onde os ladrões arrombam e roubam”. O lar católico, pelo contrário, é a morada dos filhos de Deus, cujas interações são regidas, não pelas leis dos homens, mas pela lei do amor de Deus, observada na fé, na esperança e na caridade. É um lugar de consolação espiritual, um refúgio contra os ataques do mundo, livre da influência corruptiva de jornais e livros irreligiosos, de uma má programação de rádio e televisão e do uso desregrado desse modelo de tentação para a imoralidade, a Internet.

Uma expressão poderosa da dimensão espiritual do lar católico, é a bela prática da bênção anual da Epifania: assim como a presença da Sagrada Família transformou um pobre estábulo num templo de Deus, onde os Magos se ajoelharam em humilde obediência, assim também a bênção de Cristo, eleva a nossa modesta casa a um verdadeiro lar, apto a criar filhos para Deus.


A família consagrada

O sacramento do matrimónio e a bênção do lar, são condições essenciais para a terceira e última componente da Igreja doméstica: a consagração da família. Se a vida da família católica, enquanto tal, é abençoada com a graça suficiente através dos meios acima mencionados - para além, naturalmente, da Confissão regular e da recepção frequente da Eucaristia - a consagração familiar eleva a vida espiritual dos membros da família a um outro nível, por assim dizer, unindo-os como família, a uma devoção específica. Tal como um santuário é um ponto focal de devoção pública, a consagração, dá à família um “centro” espiritual, para o tipo de práticas devocionais próprias da família, isto é, práticas que são simultaneamente privadas e comunitárias por natureza. Além disso, a prática de uma devoção familiar, concede uma riqueza de graças adicionais, tais como a obtenção de indulgências parciais e plenárias em dias de festa e memoriais, que de outra forma seriam difíceis de obter, como indivíduos privados. Munida destas graças adicionais, a família católica consagrada é uma força espiritual a ter em conta, um verdadeiro batalhão da Igreja militante.


Em conjunto, estes três - o matrimónio sacramental, o lar abençoado e a família consagrada - podem ser vistos como representando o fundamento da Igreja doméstica. No entanto, enquanto os dois primeiros ainda são relativamente comuns hoje em dia, o terceiro caiu no esquecimento virtual na era pós-conciliar. Como o florescimento da Igreja doméstica está diretamente correlacionado com o florescimento das vocações religiosas, a família representa um alvo óbvio para aqueles que procuram destruir a Igreja. Privadas das graças adicionais da consagração e confrontadas com os conselhos confusos de um clero diabolicamente desorientado, as famílias católicas têm hoje, cada vez mais dificuldade em permanecer fiéis aos seus votos matrimoniais, e em cumprir as suas obrigações solenes em relação aos seus filhos. Uma medida crucial, portanto, para fortalecer as famílias católicas contra os ataques a que estão atualmente sujeitas, é o estabelecimento de igrejas domésticas, através de uma compreensão renovada da importância da consagração familiar.

A consagração da família ao Sagrado Coração de Jesus


Embora existam várias tradições devocionais que incluem atos de consagração familiar, há uma que se sobrepõe a todas as outras: a consagração familiar ao Sagrado Coração de Jesus. Esta forma de consagração, não só foi pedida por Nosso Senhor através de uma inspiração recebida pelo seu primeiro promotor, o Padre Mateo Crawley-Boevey, como também recebeu o apoio explícito e ardente de vários Papas de feliz memória, incluindo os Papas São Pio X, Bento XV, Pio XI e Pio XII.

O sagrado coração de jesus

A devoção ao Sagrado Coração de Jesus, em gera; e a consagração familiar ao Sagrado Coração de Jesus, em particular; tem sido louvada como a devoção, por excelência, para restaurar e defender a piedade da família católica, e, a seguir à recitação do Santo Rosário, nenhuma outra devoção obteve tantas indulgências facilmente obteníveis.

A consagração da família ao Sagrado Coração de Jesus, faz parte de uma cerimónia mais abrangente, conhecida como a Entronização do Sagrado Coração de Jesus no Lar. Esta cerimónia, embora só celebrada desde a sua instituição, há pouco mais de um século, foi rapidamente reconhecida como a arma de eleição para combater as forças perversas que se opõem à família católica. Na sua carta de aprovação de 1915 ao Padre Crawley-Boevey, pelo seu trabalho de promoção da Entronização, o Papa Bento XV dá a sua aprovação enfática da cerimónia da Entronização, bem como uma descrição sóbria dos males que o Céu pediu para controlar - que são, sem surpresa, os mesmos males que grassam hoje em dia:

"Nada [...] é mais adequado às necessidades dos dias de hoje do que a vossa missão. é o Este é plano que hoje, infelizmente, muitos tentam realizar: Perverter, tanto na vida privada como na pública, o conceito de moralidade engendrado e fomentado pela Igreja, e, depois de ter quase apagado o último vestígio de sabedoria e decência cristãs, conduzir a sociedade humana de volta às miseráveis instituições do paganismo. Oxalá os seus esforços fossem infrutíferos!
Os esforços maliciosos dos ímpios, são dirigidos principalmente contra a família, porque, contendo em si mesma os princípios e, por assim dizer, o germe de toda a sociedade humana, eles veem claramente que a mudança, ou melhor, a corrupção, que eles estão a tentar introduzir na sociedade humana, seguirá a diante, uma vez que a corrupção da própria família tenha sido realizada. Assim, as leis do divórcio são introduzidas para pôr fim à estabilidade do casamento; as crianças são forçadas a seguir um ensino oficial, na sua maior parte alheio à religião, eliminando assim a autoridade dos pais numa questão da mais alta importância; além disso, é dado apoio à propagação de um vergonhoso curso de indulgência egoísta que contraria as leis da natureza e, golpeando a raça humana na sua própria fonte, mancha a santidade do casamento com práticas impuras.
Por isso, fazes bem, meu caro filho, ao abraçar a causa da sociedade humana, em despertar e propagar, acima de todas as coisas, o espírito cristão no lar, estabelecendo em cada família o reino do amor de Jesus Cristo. E, ao fazeres isso, estás apenas a obedecer ao próprio Senhor Divino, que prometeu derramar as Suas bênçãos sobre os lares onde uma imagem do Seu Coração deve ser exposta e devotamente honrada."


Cerimónia de Entronização do Sagrado Coração de Jesus no Lar


A cerimónia de Entronização propriamente dita, consiste:

  • Na bênção de uma imagem ou estátua do Sagrado Coração de Jesus;

  • Na Consagração da Família;

  • No ato de Entronização.


altar domestico ao sagrado coração de jesus

O ato de Entronização, é o momento em que a imagem ou estátua abençoada, é instalada num lugar de honra da casa, designado por “trono”. Desde 1942, é costume combinar esta cerimónia com a Consagração da Família ao Imaculado Coração de Maria e uma bênção especial das crianças, se presentes, bem como uma oração pelo descanso pacífico de quaisquer membros da família que tenham partido para a sua recompensa eterna. A cerimónia de entronização é devidamente concluída com uma oração comunitária de ação de graças, a Salvé Rainha e uma breve ladainha. É preferível que a cerimónia se realize num dia de especial significado, como a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, a festa de Cristo Rei ou um aniversário de casamento, pois a comemoração comunitária do dia da Entronização, ajuda a manter acesa a chama da devoção durante as muitas provações que a família enfrenta.

O Papa Pio XII, nos seus numerosos discursos aos recém-casados, recomendava com frequência a cerimónia da Entronização, como um dos primeiros atos a realizar no lar católico, assegurando que cada nova família, estivesse sob as graças protetoras do Sagrado Coração de Nosso Senhor:

"Por isso, queridos recém-casados, a imagem do Sagrado Coração de Jesus - o Coração que tanto amou a humanidade - deve ser instalada e adorada nas vossas casas, como a imagem de um parente mais próximo e querido. Esta imagem, derramará a plenitude da Sua bênção sobre vós e sobre os vossos filhos. Instalada, significa que esta imagem não deve ser feita para vigiar o vosso repouso numa sala silenciosa, mas deve residir num verdadeiro lugar de honra, como por exemplo, por cima da entrada da sala de jantar ou em qualquer outro lugar onde haja muitas entradas e saídas. Como diz Nosso Senhor: «Todo aquele, pois, que der testemunho de mim diante dos homens, também eu darei testemunho dele diante de meu Pai que está nos céus». Adorado significa que, de vez em quando, uma mão amorosa deve colocar algumas flores, acender uma vela ou manter uma lâmpada ligada, diante da custosa estátua ou da simples imagem do Sacratíssimo Coração, como sinal contínuo de fé e de amor. Além disso, significa que a família se deve reunir à volta dessa imagem todas as noites, para a adorar em conjunto e para rezar pela renovação da sua bênção. Numa palavra, a casa em que o Sacratíssimo Coração é devidamente adorado é aquela em que ele é reconhecido por todos como o Rei do Amor."

Num discurso radiofónico proferido no final do Congresso do Sagrado Coração de 1945 em França, durante o qual 300 padres se consagraram ao Sacratíssimo Coração, com a intenção de realizar a cerimónia da Entronização nas suas próprias casas, o Papa Pio XII explicou a relação entre a Entronização do Sagrado Coração e a Realeza de Cristo:

"A vossa casa, assim abençoada, doravante atingirá o seu fim, próprio de um lar santificado, e não poderá conter nada que ofenda os Olhos, os Ouvidos ou o Coração de Jesus. Aí, Ele é Rei, e deve receber, na vossa lealdade para com Ele, um tributo ininterrupto de reverência, respeito e amor. Como Senhor Supremo da vossa casa, Ele está interiormente ligado a toda a sua vida, e não pode haver nela nenhum sofrimento, nenhuma alegria, nenhum medo e nenhuma esperança em que não O deixeis participar. É este, o sentido da realeza de Cristo: tudo é santificado".

A excelência da Entronização do Sagrado Coração de Jesus como meio para o estabelecimento da Igreja doméstica torna-se, assim, imediatamente evidente. A Entronização, idealmente o primeiro ato realizado pelos esposos recém-casados, é o reconhecimento formal de Cristo como Rei, tanto da sua união sacramental como do seu lar abençoado, transformando-o literalmente numa parte do Reino de Deus. Ao entrar numa casa assim, é costume fazer o sinal da cruz com a água benta guardada junto à entrada, tanto para lavar simbolicamente a contaminação do mundo exterior como para recordar o acesso ao Reino de Deus: o sacramento do Batismo. Atravessando o limiar e olhando para a imagem do Sacratíssimo Coração de Jesus sentado no trono, recorda-se que o mundo dos homens foi deixado para trás; aqui, Cristo é Senhor e Rei.

Através da cerimónia da Entronização, o Sagrado Coração de Jesus, pulsando com a vida de Deus e nutrindo cada membro da família com uma superabundância de graças, torna-se o coração espiritual do lar católico. A imagem do Sagrado Coração sobre o trono, ponto central da oração e da devoção da família, serve de altar, por assim dizer, da igreja doméstica. Assim estabelecida, a igreja doméstica é mais do que um simples lugar de descanso dos contínuos ataques do mundo; é uma casa de Deus, uma embaixada de Cristo, uma base de operações avançada para a Igreja Militante. De facto, não há nada na terra que o Inimigo odeie mais do que uma igreja doméstica onde o Sagrado Coração de Jesus reina supremo.

A Entronização do Sagrado Coração de Jesus no Lar pode ser realizada por qualquer sacerdote católico, embora os sacerdotes da Fraternidade Sacerdotal de São Pedro (FSSP) tenham assumido a divulgação da cerimónia com renovado vigor, e estejam ansiosos por ver as famílias aproveitarem as muitas graças que dela derivam.



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