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O Jubileu das Igrejas Orientais

  • Cláudia Pereira
  • 16 de mai.
  • 9 min de leitura

«Neste sentido, peço ao Dicastério para as Igrejas Orientais, a quem agradeço pelo seu trabalho, que me ajude a definir princípios, normas e diretrizes através das quais os Pastores latinos possam apoiar concretamente os católicos orientais na diáspora a preservar as suas tradições vivas e a enriquecer com a sua especificidade o contexto em que vivem.» - Papa Leão XIV

O Jubileu das Igrejas Orientais
Papa Leão XIV é cumprimentado pelos patriarcas do oriente

O Jubileu das Igrejas Orientais é uma celebração especial, promovida pela Igreja Católica, para marcar os 1700 anos do Primeiro Concílio de Niceia, realizado em 325 d.C. Este concílio foi fundamental para definir os pontos centrais da fé cristã, como a formulação do Credo Niceno, que afirma a divindade de Cristo.

O Credo Niceno, mais tarde completado pelo Concílio de Constantinopla em 381, tornou-se, na prática, o cartão de identidade da fé professada pela Igreja. Por esse motivo, a Comissão Teológica Internacional (CTI), decidiu dedicar um documento de quase setenta páginas, ao Concílio convocado pelo imperador Constantino na Ásia Menor, com o duplo objetivo de recordar seu significado fundamental e destacar os extraordinários recursos do Credo, relançando-os na perspectiva da nova etapa de evangelização que a Igreja é chamada a viver na atual mudança de época. Um motivo acrescido, é o facto de este aniversário de 1700 anos, acontecer durante o Jubileu da Esperança e coincidir com a data da Páscoa para todos os cristãos, no Oriente e no Ocidente.


Credo Niceno-constantinopolitano

Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis.
Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho unigénito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos: Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado, não criado, consubstancial ao Pai. Por Ele todas as coisas foram feitas. E por nós, homens, e para nossa salvação desceu dos céus. (Todos se inclinam às palavras: E encarnou... e Se fez homem.) E encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e Se fez homem. Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos; padeceu e foi sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras; e subiu aos céus, onde está sentado à direita do Pai. De novo há de vir em sua glória, para julgar os vivos e os mortos; e o seu reino não terá fim.
Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado: Ele que falou pelos profetas.
Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica. Professo um só batismo para remissão dos pecados. E espero a ressurreição dos mortos, e a vida do mundo que há de vir. Ámen.

Esta celebração do jubileu teve como objetivo:

  • Valorizar a herança espiritual e teológica das Igrejas Orientais, tanto católicas orientais quanto ortodoxas.

  • Promover o diálogo ecumênico, ou seja, a aproximação e unidade entre as diferentes tradições cristãs do Oriente e do Ocidente.

  • Reforçar a importância da comunhão na fé, como foi vivida no Concílio de Niceia.


O Jubileu das Igrejas Orientais é um momento de recordação histórica, oração e promoção da unidade cristã, centrado na fé comum em Jesus Cristo. Vejamos o que disse o nosso Papa Leão XIV no seu discurso, aos participantes no Jubileu das Igrejas Orientais:


Papa Leão XIV cumprimenta os patriarcas do oriente
Papa Leão XIV cumprimenta os patriarcas do oriente

Sala Paulo VI - Quarta-feira, 14 de maio de 2025


Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, a paz esteja convosco!

Beatitudes, Eminência, Excelências

Caríssimos sacerdotes, consagradas e consagrados

Irmãos e irmãs!

Cristo ressuscitou! Verdadeiramente ressuscitou! Saúdo-vos com as palavras que, neste tempo pascal, o Oriente cristão não se cansa de repetir em muitas regiões, professando o âmago da fé e da esperança. E é bom ver-vos aqui precisamente por ocasião do Jubileu da esperança, da qual a ressurreição de Jesus é o fundamento indestrutível. Bem-vindos a Roma! Estou feliz por me encontrar convosco e por dedicar um dos primeiros encontros do meu pontificado aos fiéis orientais.

Sois preciosos! Olhando para vós, penso na variedade das vossas proveniências, na história gloriosa e nos amargos sofrimentos que muitas das vossas comunidades padeceram ou padecem. E gostaria de reiterar o que o Papa Francisco disse sobre as Igrejas Orientais: «São Igrejas que devem ser amadas, conservam tradições espirituais e sapienciais únicas e têm muito a dizer-nos sobre a vida cristã, a sinodalidade, a liturgia; pensemos nos antigos Padres, nos Concílios, no monaquismo, tesouros inestimáveis para a Igreja» (Discurso aos participantes na Assembleia da ROACO, 27 de junho de 2024).

Desejo citar também o Papa Leão XIII, que pela primeira vez dedicou um documento específico à dignidade das vossas Igrejas, considerando sobretudo que «a obra da redenção humana teve início no Oriente» (cf. Carta apostólica Orientalium dignitas, 30 de novembro de 1894). Sim, desempenhais «um papel singular e privilegiado como contexto original da Igreja nascente» (São João Paulo II, Carta apostólica Orientale lumen, 5). É significativo que algumas das vossas Liturgias - que nestes dias celebrais solenemente em Roma, segundo várias tradições - ainda usem a língua do Senhor Jesus. Mas o Papa Leão XIII dirigiu um forte apelo para que a «legítima variedade de liturgia e disciplina orientais [...] redunde a favor [...] do grande decoro e utilidade da Igreja» (Carta apostólica Orientalium dignitas). A sua preocupação de então é muito atual, pois nos nossos dias tantos irmãos e irmãs orientais, entre os quais muitos de vós, obrigados a fugir dos seus territórios de origem por causa da guerra e das perseguições, da instabilidade e da pobreza, correm o risco, chegando ao Ocidente, de perder não só a pátria, mas também a identidade religiosa. E assim, com o passar das gerações, perde-se o legado inestimável das Igrejas Orientais.

Há mais de um século, Leão XIII observou que «a conservação dos ritos orientais é mais importante do que geralmente se crê» e, com esta finalidade, chegou a prescrever que «qualquer missionário latino, quer do clero secular ou regular que, com conselhos ou ajudas, atraia algum oriental para o rito latino» fosse «demitido e excluído do seu ofício» (ibid.). Acolhamos o apelo a salvaguardar e promover o Oriente cristão, especialmente na diáspora; aqui, além de erigir, onde possível e oportuno, Circunscrições orientais, é necessário sensibilizar os latinos. Neste sentido, peço ao Dicastério para as Igrejas Orientais, a quem agradeço pelo seu trabalho, que me ajude a definir princípios, normas e diretrizes através das quais os Pastores latinos possam apoiar concretamente os católicos orientais na diáspora a preservar as suas tradições vivas e a enriquecer com a sua especificidade o contexto em que vivem.

A Igreja precisa de vós! Como é grande a contribuição que o Oriente cristão nos pode oferecer hoje! Quanta necessidade temos de recuperar o sentido do mistério, tão vivo nas vossas liturgias, que abrangem a pessoa humana na sua totalidade, cantam a beleza da salvação e suscitam o enlevo pela grandeza divina que abraça a pequenez humana! E como é importante redescobrir, também no Ocidente cristão, o sentido do primado de Deus, o valor da mistagogia, da intercessão incessante, da penitência, do jejum, do pranto pelos pecados, próprios e de toda a humanidade (penthos), tão típicos das espiritualidades orientais! Por isso, é fundamental valorizar as vossas tradições sem as diluir, talvez por praticidade e comodidade, para que não sejam corrompidas por um espírito consumista e utilitarista.

As vossas espiritualidades, antigas e sempre novas, são medicinais. Nelas, o sentido dramático da miséria humana funde-se com a admiração pela misericórdia divina, de tal modo que as nossas baixezas não provoquem desespero, mas convidem a acolher a graça de ser criaturas curadas, divinizadas e elevadas às alturas celestiais. É preciso louvar e dar graças incessantes ao Senhor por isto! Podemos recitar convosco as palavras de Santo Efrém, o Sírio, dizendo a Jesus: «Glória a Vós que fizestes da vossa cruz uma ponte sobre a morte. [...] Glória a Vós que vos revestistes do corpo do homem mortal, transformando-o em manancial de vida para todos os mortais» (Discurso sobre o Senhor, 9). É um dom a pedir, o de saber ver a certeza da Páscoa em todas as tribulações da vida sem desanimar, recordando, como escrevia outro grande Padre oriental, que «o maior pecado é não acreditar nas energias da Ressurreição» (Santo Isaac de Nínive, Sermones ascetici, I, 5).

Portanto, quem mais do que vós pode entoar palavras de esperança no abismo da violência? Quem melhor do que vós, que conheceis de perto os horrores da guerra, a ponto que o Papa Francisco definiu as vossas Igrejas «martiriais» (Discurso à ROACO, cit.)? É verdade: da Terra Santa à Ucrânia, do Líbano à Síria, do Médio Oriente ao Tigray e ao Cáucaso, quanta violência! E diante de todo este horror, sobre os massacres de tantas vidas jovens, que deveriam provocar indignação, porque em nome da conquista militar são as pessoas que morrem, sobressai um apelo: não tanto do Papa, mas de Cristo, que repete: «A paz esteja convosco!» (Jo 20, 19.21.26). E especifica: «Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou. Não vo-la dou como o mundo a dá» (Jo 14, 27). A paz de Cristo não é o silêncio sepulcral depois de um conflito, não é o resultado de um esmagamento, mas é um dom que olha para as pessoas e reativa a sua vida. Rezemos por esta paz, que é reconciliação, perdão, coragem para virar a página e começar.

Farei todos os esforços para que esta paz se propague. A Santa Sé está disponível para que os inimigos se encontrem e se fitem nos olhos, para que aos povos se devolvam a esperança e a dignidade que merecem, a dignidade da paz. Os povos querem a paz e eu, com o coração nas mãos, digo aos responsáveis dos povos: encontremo-nos, dialoguemos, negociemos! A guerra nunca é inevitável, as armas podem e devem ser silenciadas, pois não resolvem os problemas mas só os aumentam; pois ficará na história quem semeia a paz, não quem ceifa vítimas; pois os outros não são sobretudo inimigos, mas seres humanos: não vilões a odiar, mas pessoas com quem falar. Rejeitemos as visões maniqueístas típicas das narrações violentas, que dividem o mundo entre bons e maus.

A Igreja não se cansará de repetir: silenciem as armas! E gostaria de dar graças a Deus por aqueles que, no silêncio, na oração, na oferta, tecem fios de paz; e aos cristãos - orientais e latinos - que, sobretudo no Médio Oriente, perseveram e resistem nas suas terras, mais fortes do que a tentação de as abandonar. Aos cristãos deve ser dada a oportunidade, não apenas palavras, de permanecer nas suas terras com todos os direitos necessários para uma existência segura. Por favor, que se lute por isto!

E obrigado, obrigado a vós, queridos irmãos e irmãs do Oriente, de onde ressuscitou Jesus, Sol de justiça, por serdes “luzes do mundo” (cf. Mt 5, 14). Continuai a brilhar pela fé, esperança e caridade, por nada mais! Que as vossas Igrejas sirvam de exemplo e os Pastores promovam com retidão a comunhão, especialmente nos Sínodos dos Bispos, para que sejam lugares de colegialidade e de autêntica corresponsabilidade. Que haja transparência na gestão dos bens, que se dê testemunho de humilde e total dedicação ao povo santo de Deus, sem apego às honras, aos poderes do mundo e à própria imagem. São Simeão, o Novo Teólogo, indicava um bom exemplo: «Assim como alguém, lançando pó sobre a chama de uma fornalha ardente, a apaga, do mesmo modo as preocupações desta vida e toda a espécie de apego a coisas mesquinhas e sem valor destroem o calor do coração aceso nos primórdios» (Capítulos práticos e teológicos, 63). O esplendor do Oriente cristão exige, hoje mais do que nunca, a libertação de toda a dependência mundana e de quaisquer tendências contrárias à comunhão, para ser fiel na obediência e no testemunho evangélicos.

Agradeço-vos por isto e abençoo-vos de coração, pedindo-vos que rezeis pela Igreja e eleveis as vossas poderosas orações de intercessão pelo meu ministério. Obrigado!


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CARTA APOSTÓLICA ORIENTALE LUMEN DO SUMO PONTÍFICE JOÃO PAULO II

I - CONHECER O ORIENTE CRISTÃO,UMA EXPERIÊNCIA DE FÉ

5. «No estudo da verdade revelada, o Oriente e o Ocidente usaram métodos e modos diferentes para conhecer e exprimir os mistérios divinos. Não admira, por isso, que alguns aspectos do mistério revelado sejam por vezes apreendidos mais convenientemente e postos em melhor luz por um que por outro. Nestes casos, deve dizer-se que aquelas várias fórmulas teológicas, em vez de se oporem, não poucas vezes se completam mutuamente» (10).

Tendo no coração as perguntas, as aspirações e as experiências a que fiz referência, a minha mente dirige-se ao património cristão do Oriente. Não é minha intenção descrevê-lo nem interpretá-lo: coloco-me em atitude de escuta das Igrejas do Oriente, sabendo que são intérpretes vivas do tesouro tradicional que guardam. Contemplando-o, vejo aparecer elementos de grande significado para uma compreensão mais plena e integral da experiência cristã, e, portanto, para dar uma resposta cristã mais completa aos anseios dos homens e das mulheres de hoje. Em relação a qualquer outra cultura, o Oriente cristão tem, de facto, um papel único e privilegiado enquanto contexto original da Igreja nascente.

A tradição oriental cristã implica certa maneira de acolher, compreender e viver a fé no Senhor Jesus. Nesse sentido, ela está muitíssimo perto da tradição cristã do Ocidente, que nasce e se alimenta da mesma fé. E, contudo, diferencia-se legítima e admiravelmente, enquanto o cristão oriental tem uma forma própria de sentir e compreender, e, portanto, também uma forma original de viver a sua relação com o Salvador. Quero, aqui, abeirar-me com temor e tremor do acto de adoração que exprimem estas Igrejas, mais do que assinalar este ou aquele ponto teológico específico, que emergiu ao longo dos séculos em contraposição polémica no debate entre Ocidentais e Orientais.

O Oriente cristão, desde as suas origens, mostra-se multiforme no próprio interior, capaz de assumir os traços característicos de cada cultura individual, e com um respeito máximo por cada comunidade particular. Não podemos deixar de agradecer a Deus, com profunda comoção, a admirável variedade com que permitiu a composição, com tesselas diferentes, de um mosaico tão rico e variegado.





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