15.º Dia - Meditações para o Mês do Sagrado Coração de Jesus
- Cláudia Pereira
- 14 de jun.
- 10 min de leitura
As reflexões de Santo Afonso Maria de Ligório sobre o Sagrado Coração de Jesus, foram escritas principalmente entre 1740 e 1770, e espalhadas por diversas obras suas, sempre com o foco no amor redentor e compassivo de Jesus Cristo. A recolha destes textos, surgiu depois, organizada pelo Padre Saint-Omer, redentorista, que os compilou num livro intitulado "O Sagrado Coração de Jesus segundo Santo Afonso Maria de Ligório", em 1874. São estas, as meditações que lhe apresentamos; textualmente transcritas, adaptadas apenas ao acordo ortográfico de 2009, para melhor compreensão do conteúdo e da forma.
Nestes e nos próximos artigos, para além das meditações guiadas para cada um dos dias do mês de Junho – Mês do Sagrado Coração de Jesus – poderá encontrar também orações vocais, que deverá juntar à sua oração mental. Se não estiver familiarizado com o método de fazer oração mental, consulte o nosso guia prático para fazer oração mental.
Deixe-se guiar pelo Espírito Santo, e una o seu coração ao Sagrado Coração de Jesus.

15.º dia do Mês do Sagrado Coração de Jesus
O Coração de Jesus na Paixão
Vamos ao Getsémani: aí encontraremos o Coração de Jesus cheio de tristeza.
Com temor e tédio, o Coração de Jesus começou a experimentar uma grande tristeza; Coepit moestus esse. Mas, Senhor, Vós que dáveis a Vossos mártires tão grande alegria nos seus padecimentos, de modo que desprezavam os tormentos e a morte! São Vicente falava com tanta alegria durante seu martírio, que parecia que ele falava, mas outro é que sofria. Conta-se que São Lourenço, ardendo na grelha, experimentava tal consolação, que desafiava o tirano e lhe bradava: “Vira-me e come.”
Ó Coração do meu Jesus, pensando nisto, como é que a Vós, que destes aos Vossos servos tão grande alegria nos seus suplícios, Vos coube tão amarga tristeza nos Vossos? Ah! Eu compreendo-Vos: um Deus continuamente ofendido, a multidão dos nossos pecados, a nossa insensibilidade, estas foram as causa da Vossa profunda aflição.
Quem é que amava mais o Pai Eterno, que o Coração de Jesus? Pois bem! Ele amava tanto o Seu divino Pai, quanto detestava o pecado, cuja maldade conhecia perfeitamente. Foi para tirar o pecado do mundo, e não ver este Pai amadíssimo ser mais ofendido, que Ele se fez homem, aceitando a Paixão tão dolorosa. Ora, vendo que os homens não cessariam de ofender a Majestade divina, Ele sentiu uma tão viva amargura, que declarou experimentar tristeza suficiente para lhe tirar a vida:
«A minha alma está numa tristeza de morte. Ficai aqui e vigiai comigo». – Mt 26, 38
Segundo Santo Tomás, a dor que Jesus sentiu pelos nossos pecados, excedeu a de todos os penitentes, quanto aos seus próprios pecados. Foi maior do que todas as dores que podem afligir um coração humano. A razão é que, todos os padecimentos dos homens são sempre acompanhados de alguma consolação, ao passo que a dor de Jesus foi pura dor, sem alívio algum.
Lê-se na história que, certos penitentes, esclarecidos pela luz divina sobre a malícia dos seus pecados, penetraram-se de tal arrependimento que morreram. O suplício de Jesus à vista de todos os pecados do mundo, de todas as blasfêmias, de todos os sacrilégios, de todas as impurezas, de todos os crimes que seriam cometidos pelos homens; em cada um deles, sentiu como uma besta feroz que Lhe rasgava o Coração.
Lá no Jardim, agonizando de tristeza, o nosso Salvador dizia: “Ó homens, é isto que tendes para me dar em troca do amor imenso que vos tenho? Ah! Se eu Vos visse a responder à minha caridade pela fuga do pecado e consagração ao meu amor, com quanta alegria iria agora morrer por Vós! Mas ver tantos pecados, após tantos padecimentos; tanta ingratidão, após tanto amor; isto é o que me aflige imensamente, isto é o que me torna triste até à morte e me faz suar sangue!” Este suor de sangue foi tão abundante, conforme o Evangelho, que molhou primeiro todas as suas vestes, e correu depois sobre a terra.
«Entrando em angústia, orava mais instantemente, e o suor tornou-se-Lhe como grossas gotas de sangue, que caíam na terra.» - Lc 22, 44
Pelo horror que Ele teve dos nossos pecados, e que lhe causou tão dura agonia, o Coração de Jesus mereceu-nos a graça da contrição. Ah! Quão fácil nos seria chorar com Ele os pecados da nossa vida, se compreendêssemos o que é um Deus ofendido!
Lembremo-nos muitas vezes, que o arrependimento é a principal condição requerida para obtermos a remissão dos nossos pecados. Não são as longas confissões que são as melhores, mas aquelas em que há maior dor. O sinal de uma boa confissão, diz São Gregório, não está no grande número de palavras do penitente, mas no arrependimento que ele tem. Aliás, as pessoas que se confessam frequentemente e que têm horror, até das faltas veniais, não têm motivo para duvidar se têm uma verdadeira contrição. Entre elas, há algumas pessoas que se afligem por não a sentir; quereriam, cada vez que se confessam, ter lágrimas de enternecimento; e como, apesar dos seus esforços, não as conseguem, ficam sempre inquietas quanto ao valor das suas confissões. Ora, o verdadeiro arrependimento não está no senti-lo, mas no quere-lo. O santo rei Ezequias, dizia que sentia dos seus pecados dor muito amarga, mas acompanhada de paz.
Para fazer na prática
Antes de minhas confissões, colocar-me-ei no lugar de Jesus chorando os meus pecados no jardim das Oliveiras, depois disto, pedirei a Deus a graça do arrependimento sincero, oferecendo-lhe a aflição do Coração de Jesus e as lágrimas de Maria.
Afetos e Súplicas
Meu terno Salvador, eu não vejo nesse jardim, nem açoites, nem espinhos, nem cravos que rasgam a Vossa carne; então, como Vos vejo coberto de sangue, da cabeça aos pés? Ah! Os meus pecados foram o cruel lagar que, à força de aflição e tristeza, fez correr do Vosso Coração tão grande abundância de sangue! Eu também fui um dos Vossos algozes mais cruéis; ajudei, com os meus pecados, a atormentar-Vos mais cruelmente! Ó meu Jesus, é certo que se eu tivesse pecado menos, menos tínheis sofrido; assim, quanto mais prazer coloquei em ofender-Vos, mais aumentei a aflição e as angústias do Vosso Coração.
Ai! Como não me faz morrer de dor este pensamento, em que respondi ao Vosso amor, trabalhando para aumentar as Vossas penas. Eu afligi este Coração tão amável e tão terno, e que me tem dado provas de tão grande amor. Senhor, não tenho outro meio de Vos consolar, senão arrependendo-me de Vos ter ofendido, então, sinceramente me arrependo. Ó meu Jesus, disto tenho o mais vivo pesar. Concedei-me dor tão forte, que me faça chorar sem para, até ao último suspiro de minha vida, os desgostos que Vos causei, ó meu Deus, meu amor, meu tudo!
Oração Jaculatória
Meu Jesus, como pude afligir assim o Vosso Coração tão rico em amor para comigo!
Exemplo
Certo dia, um religioso recebeu a visita de um homem, seu amigo, que vinha banhado em lágrimas, dar-lhe a conhecer a triste situação em que o tinha lançado sua fraqueza.
Viúvo, com uma filha única, ele tinha-se deixado dominar completamente por esta moça, que o tratava mais como escravo do que como pai. Ela só tinha gosto para os prazeres do mundo, e dissipava a sua fortuna em toucadores e outras frivolidades.
Depois de muita insistência do pai, o digno religioso foi vê-la, num dia em que ela estava indisposta, e pareceu-lhe o momento oportuno para dizer a verdade e abater este carácter altivo e vaidoso.
- Sabei, menina - disse-lhe o religioso com forte energia - sabei que, continuando pelo caminho em que andais, dareis convosco no inferno.
- E vós, meu Padre, - respondeu a moça indignada com tal franqueza - sabei que não foi para ouvir sermão que eu vos recebi. Nobre, rica e jovem, como sou, não tenho nenhum desejo em fazer-me reclusa. Eu não! Quero gozar da vida e passar a minha mocidade o mais alegremente que puder.
- Sei que não tenho títulos para exigir de vós coisa alguma. - Respondeu brandamente o sacerdote. - Poderíeis, entretanto, recusar-me o direito de vos dirigir um pedido?
A mansidão do homem de Deus abrandou a sanha da moça, e esta respondeu-lhe com calma, ainda que com uma certa altivez:
- Pois bem! Falai, que quereis?
- Eu quereria obter de vós uma promessa, e bem fácil de cumprir.
- Qual é? Se é assim tão fácil como dizeis, não deixarei de vos atender.
A estas palavras, o religioso tirou do seu breviário uma pequena estampa do Sagrado Coração de Jesus.
-Tudo o que vos peço, menina, é recitar todas as manhãs, durante nove dias, um Glória ao Pai diante desta estampa, mas de joelhos em terra, ouvis?
A moça ficou pálida com estas palavras, e comovida, tomando a estampa que lhe era apresentada, respondeu:
- Sim, farei…
A graça tinha já vencido este coração rebelde. No dia seguinte, o homem foi ter com o religioso, seu amigo:
- Ah! Que se passou ontem entre vós e minha filha, meu Padre? - disse-lhe ao vê-lo - Depois da vossa partida, ela está constantemente ajoelhada, o rosto entre as mãos, e chora amargamente.
- É graça do Coração de Jesus. - respondeu o padre.
Nesse mesmo dia, a menina confessou-se com muita humildade. Um mês depois, o religioso recebeu uma carta cheia de reconhecimento daquela a quem ele tinha salvado do abismo. Ela acabava de dizer adeus ao mundo e entrar num convento. Ano e meio mais tarde, ele recebeu uma segunda carta portadora de notícias ainda mais felizes, escrita no dia mesmo da profissão religiosa. Ditosa Madalena! O seu amor é todo para o Coração de Jesus, que lhe deu a paz da alma! (Mess. do C. d. J.)
Ladainha do Sagrado Coração de Jesus
Em 1899, o Papa Leão XIII aprovou esta Ladainha do Sagrado Coração de Jesus para uso público. A sua estrutura constitui, na verdade, uma síntese de várias outras litanias que remontam ao século XVII. A versão final, aprovada pela Sagrada Congregação para os Ritos, perfaz um total de 33 invocações ao Coração divino de Nosso Senhor, uma para cada ano de sua santíssima vida.
Quem recita devotamente esta oração lucra indulgências parciais (cf. Enchr. Indulg., conc. 22).
Senhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, ouvi-nos.
Jesus Cristo, atendei-nos.
Pai celeste, que sois Deus, tende piedade de nós.
Filho, Redentor do mundo, que sois Deus, tende piedade de nós.
Espírito Santo, que sois Deus, tende piedade de nós.
Santíssima Trindade, que sois um só Deus, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, Filho do Pai eterno, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, formado pelo Espírito Santo no seio da Virgem Mãe, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, unido substancialmente ao Verbo de Deus, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, de majestade infinita, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, templo santo de Deus, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, tabernáculo do Altíssimo, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, casa de Deus e porta do Céu, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, fornalha ardente de caridade, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, receptáculo de justiça e de amor, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, cheio de bondade e de amor, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, abismo de todas as virtudes, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, digníssimo de todo o louvor, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, Rei e centro de todos os corações, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, no qual estão todos os tesouros da sabedoria e ciência, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, no qual habita toda a plenitude da divindade, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, no qual o Pai põe todas as suas complacências, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, de cuja plenitude todos nós participamos, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, desejo das colinas eternas, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, paciente e de muita misericórdia, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, rico para todos os que Vos invocam, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, fonte de vida e santidade, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, propiciação pelos nossos pecados, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, saturado de opróbrios, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, esmagado de dor por causa dos nossos pecados, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, feito obediente até a morte, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, trespassado pela lança, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, fonte de toda consolação, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, nossa vida e ressurreição, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, nossa paz e reconciliação, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, vítima dos pecadores, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, salvação dos que esperam em Vós , tende piedade de nós.
Coração de Jesus, esperança dos que morrem em vós, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, delícias de todos os santos, tende piedade de nós.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, perdoai-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, ouvi-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós, Senhor.
V. Jesus, manso e humilde de coração,
R. Fazei o nosso coração semelhante ao vosso.
Oremos: Deus eterno e todo-poderoso, olhai para o Coração do Vosso diletíssimo Filho e para os louvores e satisfações que Ele, em nome dos pecadores, Vos tem tributado; e, deixando-Vos aplacar, perdoai aos que imploram a vossa misericórdia, em nome de Vosso mesmo Filho, Jesus Cristo, que conVosco vive e reina na unidade do Espírito Santo. Amém.
Consagração ao Sagrado Coração de Jesus por Santa Margarida Maria Alacoque
Ó Sagrado Coração de Jesus, eu (dizer o seu nome)… dou-Vos e Vos consagro, a minha pessoa, a minha vida, as minhas ações, penas e sofrimentos, pois não quero servir-me de parte alguma do meu ser, senão para Vos honrar, amar e glorificar. É esta a minha vontade irrevogável: ser todo(a) Vosso(a) e fazer tudo por Vosso amor, renunciando de todo o meu coração, a tudo quanto Vos possa desagradar.
Ó Sagrado Coração de Jesus, sois o único objeto do meu amor, protetor da minha vida, segurança da minha salvação, remédio da minha fragilidade e da minha inconstância, reparador de todas as imperfeições da minha vida e o meu asilo seguro na hora da morte.
Ó Coração de bondade, sede a minha justiça diante de Deus, Vosso Pai, para que desvie de mim a Sua justa cólera.
Ó Coração de amor! Ponho toda a minha confiança em Vós, pois tudo temo da minha malícia e da minha fraqueza, mas tudo espero da Vossa bondade!
Destruí em mim, tudo que possa desagradar-Vos ou se oponha à Vossa vontade. Que o Vosso puro amor, seja tão profundamente impresso no meu coração, que eu jamais possa esquecer-Vos ou separar-me de Vós. Pela a Vossa bondade, suplico-Vos que o meu nome seja escrito no Vosso coração, pois quero que toda a minha felicidade e toda a minha glória, consistam em viver e morrer como Vosso escravo.
Amém.
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Que Deus vos proteja e abençoe por toda a eternidade.
Referência:
“O Sagrado Coração de Jesus segundo Santo Affonso de Ligório ou Meditações para o Mez do Sagrado Coração, a Hora Santa e a Primeira Sexta-feira do Mez” - Collegidas das obras do Santo Doutor pelo Padre Saint-Omer, Redemptorista. - Traducção portugueza feita da 83.º edição pelo Exmo. Revdmo. Sr. D. Joaquim Silvério de Souza, arcebispo de Diamantina. - São Paulo – 5.º edição - com aprovação eclesiástica e dos superiores da ordem. RATISBONA - Typographia de Frederico Püstet - Impressor da Santa Sé - 1926.
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