Como fazer Oração Mental - Um guia prático
- Cláudia Pereira
- 26 de mai.
- 7 min de leitura
Atualizado: 9 de jun.
Este guia prático, que nos ensina como fazer oração mental, é a apresentação do Mês do Sagrado Coração de Jesus (Junho) 1), do livro "O Sagrado Coração de Jesus segundo Santo Afonso Maria de Ligório", escrito pelo Padre Saint-Omer, em 1874. Por se tratar de uma publicação antiga, ainda que atual, esta transcrição que se segue, foi adaptada acordo ortográfico de 2009. Espero que lhe seja esclarecedora e útil á sua vida interior.
A Oração
A oração tem sido sempre as delícias das almas fervorosas. Estas delícias, querido leitor, o Sagrado Coração vos convida hoje a saborear. Mais aparentes do que reais, são as dificuldades deste santo exercício.

O que é a Oração Mental?
«Fazer oração mental ou meditação, - diz o Monsenhor Dechamps, - é pensar nas verdades da fé, para se excitar no amor divino e na prática das virtudes, cuja graça será obtida pela oração.»
A meditação chama-se oração mental, pois a oração ou súplica, é a parte principal da meditação. Assim, fazer oração mental é pensar nas verdades da fé, por exemplo, na morte, no juízo, no Céu, no inferno, na eternidade, em Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho único de Deus, que desceu do Céu, fez-se Homem por nosso amor no seio da bem-aventurada Virgem Maria, padeceu e morreu na cruz para nos alcançar o perdão de nossos pecados.
Quando fazemos Oração Mental?
Quando o cristão pensa numa das grandes verdades que a santa fé ensina, e pensa, para se excitar a evitar o pecado, imitar a Jesus Cristo e empregar para isto os meios que Ele nos deixou, primacialmente a oração e os sacramentos, que são os canais da graça; então faz a meditação ou oração mental.
Bem vedes que muitos cristãos que nunca ouviram talvez pronunciar estas palavras, fazem, contudo, a oração, quando pensam algumas vezes nas verdades da salvação, por exemplo:
Quando depois de ouvirem o sermão do domingo, pedem a Deus perdão dos pecados, tomam a resolução de confessar-se e lhe rogam a graça de vida melhor.
Faz também oração mental, aquele que se prepara para uma boa confissão, porque então, depois de ter orado e reconhecido suas faltas, excita-se á contrição pensando no inferno que mereceu, no Céu e na graça de Deus que perdeu, em Jesus Cristo, a quem nossos pecados fizeram chorar, padecer e morrer.
Ainda faz oração mental, quem, depois de ter lido nalgum bom livro, pára um pouco, considerando um ponto que lhe diz respeito e mais o comove, e depois ora a Deus, a Jesus, a Maria, aos santos anjos, ou aos santos padroeiros, a fim de conseguir uma graça que deseja, ou cumprir uma coisa que Deus exige dele.
Em viagem, e até no trabalho, pode uma pessoa fazer oração mental, pois ainda pode pensar nas verdades da salvação, e dirigir-se a Deus em súplicas.
Não se creia, pois, que este exercício, por ser difícil, seja raro. Não; quando se toma a peito o negócio da salvação eterna, nele se pensa todos os dias com tão boa vontade, como os negociantes no seu comércio; e tão impossível é que nos saiamos bem no negócio da nossa salvação, sem nele pensarmos e nos resolvermos a empregar os meios necessários, como o é ao negociante, prosperar sem pensar nos meios de adquirir fortuna.
«O mundo está cheio de pecados, e o inferno, de réprobos, - afirma Santo Afonso - porque não se medita nas verdades eternas» 2)
Portanto, alma cristã, nada mais fácil que fazer oração mental.
Como fazer Oração Mental?
Santo Afonso torna a sua prática extremamente simples, clara, fácil e não menos frutuosa; graças ao método que ele ensina, este exercício indispensável a quem quer santificar-se, é posto, com toda a verdade, ao alcance de todos: também seu desejo é, que todos aprendam a meditar. Eis aqui o método de fazer a oração mental, segundo o santo doutor:
«A oração mental contem três partes: a preparação, a meditação e a conclusão.»
I – Preparação
Na Preparação fazem-se três atos:
1.º Ato de Fé na presença de Deus: Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro.
2.º Ato de humildade: Eu deveria estar a esta hora no inferno; Senhor, eu me arrependo de Vos ter ofendido.
3.º Ato de petição de luzes: Eterno Pai, por amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.
Uma Avé-Maria á Mãe de Deus, e um Gloria ao Pai a S. José, ao anjo custodio e ao nosso santo protetor. Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente; depois faz-se a meditação.
II – Meditação
Para a Meditação, sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales, diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.
Cumpre, além disto, saber que os frutos da meditação são três: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado uma verdade eterna, e Deus ter falado a vosso coração, é imperativo que faleis a Deus:
1.º Pelos afetos, isto é, pelos atos de fé, agradecimento, humildade, esperança; mas repeti de preferência os atos de amor e contrição. Conforme São Tomás: «todo ato de amor nos merece a graça de Deus e o paraíso.» O mesmo se deve dizer do ato de contrição. Eis aqui exemplos de atos de amor:
Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas.
Eu Vos amo de todo o meu coração.
Quero fazer em tudo Vossa vontade.
Muito me regozijo por serdes infinitamente feliz.
2.º É necessário também falar a Deus pelas súplicas, pedindo-lhe as luzes que precisamos, a humildade ou outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna, mas principalmente o Seu amor e a santa perseverança. E se a nossa alma está em grande aridez, basta repetirmos:
Meu Deus, socorrei-me.
Senhor, tende compaixão de mim.
Meu Jesus, misericórdia!
Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.
3.º É imperativo, falar a Deus pelas resoluções: antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução particular, por exemplo: fugir de tal ocasião, sofrer o que nos incomoda em tal pessoa, corrigir-se de tal defeito, etc.
III – Conclusão
Enfim, a conclusão compõe-se de três atos:
1.º Meu Deus, eu vos agradeço as luzes que me destes.
2.º Proponho observar as resoluções que tomei.
3.º Peço-vos, por amor de Jesus e Maria, a graça de pô-las em prática.
Termina-se a oração por um Pai-Nosso e uma Avé-Maria, para recomendar a Deus as almas do purgatório, os prelados da Igreja, os pecadores, parentes e amigos.
São Francisco de Sales, aconselha anotar algum pensamento que mais impressão nos faz na oração, para o recordarmos de tempos a tempos durante o dia. É útil referir aqui, o que Santo Afonso escreveu a seus religiosos numa circular com data de 26 Fevereiro 1771.
«Recomendo-vos de preferência para meditação, os meus livros:
“A Preparação para a morte”,
“As Meditações sobre a Paixão”,
“As Setas de fogo” e as
“Meditações do Advento até a Oitava da Epifania”.
Digo isto, não para exaltar os meus pobres escritos, mas porque estas meditações estão entremeadas de pios afetos, e cheias, que é o que mais importa, de santas súplicas, o que quase não se acha noutros livros. Recomendo, pois, que se leia sempre, na meditação, a segunda parte que consiste nos afetos e súplicas.»
«Além da oração, - diz Santo Afonso - é utilíssimo fazer também, cada dia, uma Leitura Espiritual por meia hora, ou ao menos de um quarto de hora, nalgum livro que trate da vida dos santos, ou das virtudes cristãs. 3) Quantos há que foram convertidos e se tornaram grandes santos, por terem lido um livro de piedade! Aí estão São João Colombini, Santo Inácio de Loyola, e muitos outros.»
Ajuntaremos aqui, para terminar, as principais Promessas feitas por Nosso Senhor Jesus Cristo aos que honram o seu Sagrado Coração:
1. Eu lhes darei todas as graças necessárias em seu estado. (segundo a sua vocação)
2. Eu farei reinar a paz em suas famílias.
3. Eu os consolarei em todas as suas aflições.
4. Eu lhes serei um refúgio seguro durante a vida, e principalmente na morte.
5. Eu lançarei abundantes bênçãos sobre todas as suas empresas.
6. Os pecadores acharão em meu Coração a fonte e o oceano infinito de misericórdia.
7. As almas tíbias tornar-se-ão fervorosas.
8. As almas fervorosas se elevarão a uma grande perfeição.
9. Eu abençoarei as casas onde se achar exposta e honrada a imagem de meu Sagrado Coração.
10. Eu darei aos Sacerdotes o talento de tocar os corações mais empedernidos.
11. As pessoas que propagarem esta devoção terão sempre o seu nome inscrito no meu Coração.
O Sagrado Coração de Jesus segundo Santo Afonso Maria de Ligório
As reflexões de Santo Afonso Maria de Ligório sobre o Sagrado Coração de Jesus, foram escritas principalmente entre 1740 e 1770, e espalhadas por diversas obras suas, sempre com o foco no amor redentor e compassivo de Jesus Cristo. A recolha destes textos, surgiu depois, organizada pelo Padre Saint-Omer, redentorista, que os compilou num livro intitulado "O Sagrado Coração de Jesus segundo Santo Afonso Maria de Ligório", em 1874.
Nos próximos artigos iremos publicar a estrutura do livro e as suas meditações e orações, para que aprofunde a sua devoção ao Sagrado Coração de Jesus, não apenas durante o mês de Junho, mas durante toda a sua vida.
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Que Deus vos proteja e abençoe por toda a eternidade.
1) Por um decreto de 3 de Maio de 1873, o Papa Pio IX, de santa memória, concedeu a todos os que fizerem o mês do Sagrado Coração, sete anos de indulgencia em cada dia do mês de Junho, e indulgencia plenária em um dia do mesmo mês á vontade do fiel, observadas as condições ordinárias.
2) Santo Afonso, considerado na sua vida, suas virtudes e doutrina espiritual, por um padre Redentorista. Malinas, 1840.
3) Das obras de Santo Afonso extraímos um livro destinado especialmente á leitura espiritual; o seu título é: “Pratica da perfeição, posta ao alcance dos fiéis de qualquer condição, conforme Santo Afonso.” Sua Eminência, o Cardeal Dechamps, arcebispo de Malines, se dignou recomenda-lo, chamando-lhe luz e guia para as almas.
Referência:
“O Cagrado Coração de Jesus segundo Santo Affonso de Ligório ou Meditações para o Mez do Sagrado Coração, a Hora Santa e a Primeira Sexta-feira do Mez” - Collegidas das obras do Santo Doutor pelo Padre Saint-Omer, Redemptorista. - Traducção portugueza feita da 83.º edição pelo Exmo. Revdmo. Sr. D. Joaquim Silvério de Souza, arcebispo de Diamantina. - São Paulo – 5.º edição - com aprovação eclesiástica e dos superiores da ordem. RATISBONA - typographia de Frederico Püstet - Impressor da Santa Sé - 1926.
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