As Rogações: O que são e porque retomá-las hoje?
- Cláudia Pereira
- 28 de mai.
- 4 min de leitura
O que são as Rogações?
As Rogações são dias especiais de oração — e, tradicionalmente, também de jejum e penitência — em que a Igreja suplica a Deus a sua proteção em tempos de necessidade, pede perdão pelos pecados e roga bênçãos para o trabalho humano e para os frutos da terra. Esses dias ensinam-nos que, diante das dificuldades da vida, a nossa primeira resposta deve ser sempre voltarmo-nos para Deus.

Quando e como surgiram?
A prática das Rogações surgiu em tempos antigos, marcados por guerras, fome, pestes e desastres naturais, portanto, tempos não muito diferentes dos que vivemos hoje. Diante dessas provações, os cristãos reconheceram a necessidade de pedir, com humildade, o auxílio divino. Com o passar do tempo, as duas formas principais de Rogações foram organizadas pela Igreja da seguinte forma:
As Ladainhas Maiores, celebradas no dia 25 de abril, foram estabelecidas por São Gregório Magno para cristianizar uma procissão pagã romana. A intenção era pedir a bênção de Deus sobre os campos e afastar pragas e calamidades.
As Ladainhas Menores, celebradas na segunda, terça e quarta-feira antes da Ascensão, foram instituídas por São Mamerto no século V, após grandes calamidades. Posteriormente, o costume espalhou-se por toda a Igreja.
Como se celebravam essas Rogações?
Nesses dias, os fiéis saíam em procissão, acompanhando o sacerdote, que vestia paramentos de cor roxa (símbolo de penitência). Durante o percurso, recitava-se a Ladainha de Todos os Santos, cantavam-se salmos penitenciais e, ao final, celebrava-se uma Missa votiva das Rogações.
A liturgia dessas Missas reforçava a confiança na oração. A Epístola de São Tiago lembrava-nos que «a oração fervorosa do justo pode muito» (Tg 5, 16), e o Evangelho de São Lucas trazia as palavras de Jesus:
«Pedi e dar-se-vos-á; buscai e encontrareis; batei e abrir-se-vos-á» - Lc 11, 9
Porque é que estas práticas desapareceram?
Com a reforma litúrgica do século XX, especialmente após o Concílio Vaticano II, as Rogações deixaram de ser amplamente celebradas. No entanto, não foram abolidas. O atual Cerimonial dos Bispos ainda prevê a sua celebração, e o Missal Romano menciona que as conferências episcopais podem determinar como e quando é que elas devem acontecer, adaptando-as às necessidades de cada região. Mas na prática, essas orientações foram pouco seguidas, e as Rogações caíram no esquecimento em muitas partes do mundo. Restou aos fiéis o desafio — e a graça — de redescobrirem essa bela tradição.

Podemos celebrá-las hoje?
Sim! Mesmo que não estejam previstas oficialmente em todos os calendários diocesanos, as Rogações podem e devem ser vividas em família ou em pequenas comunidades. No dia 25 de abril e nos três dias antes da Ascensão do Senhor, podemos:
Rezar o Santo Terço com intenções especiais;
Recitar a Ladainha de Todos os Santos;
Meditar ou cantar salmos penitenciais;
Oferecer pequenas penitências, mesmo em tempo pascal;
Pedir a Deus pelas nossas necessidades particulares, pelas famílias, pela Igreja, pelos governantes, pelos enfermos e por todos os que sofrem.
Qual é o valor espiritual das Rogações?
As Rogações são um exercício de fé e confiança. Elas recordam-nos que, como filhos de Deus, podemos bater à porta do Céu com humildade e perseverança. Também nos ensinam que a oração pública da Igreja tem uma grande força, e que os tempos difíceis são tempos em que devemos fazer mais oração, e não, menos oração.
Além disso, a cor roxa usada nessas celebrações, mesmo durante a alegre época da Páscoa, recorda-nos que a penitência é sempre necessária. O mundo continua a ser um campo de batalha espiritual, e a nossa vigilância não deve cessar ou baixar a guarda:
«O vosso adversário, o diabo, ronda como um leão a rugir, procurando a quem devorar.» - 1 Pd 5, 8
E na liturgia tradicional?
Na forma extraordinária do rito romano, as Rogações continuam a ser uma parte viva da liturgia anual. Mesmo com as restrições recentes impostas à celebração do rito antigo, esta forma de culto permanece como um tesouro da Igreja, testemunhando séculos de fé e oração.
Podemos recomeçar?
Sim! A história das Rogações mostra que tudo começou com pequenas iniciativas locais, em tempos difíceis, e foi crescendo pouco a pouco até se tornar parte da vida de toda a Igreja. Talvez hoje o mesmo deva acontecer: famílias que rezam, paróquias que organizam procissões, comunidades que redescobrem a força da oração comum.
Se quisermos que as Rogações voltem a ocupar um lugar de honra na vida da Igreja, devemos começar por nós mesmos. Deus continua pronto a ouvir, abençoar e proteger aqueles que, com fé e humildade, se colocam diante d’Ele.
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Que Deus vos proteja e abençoe por toda a eternidade.
Referências:
Equipa Christo Nihil Præponere, (2021, 7 Maio). Rogações: o que são e por que resgatá-las?. Padre Paulo Ricardo
Equipa Christo Nihil Præponere, (2022, 23 Maio). Hora de resgatar as Rogações!. Padre Paulo Ricardo
Peter Day-Milne, (2022, 27 Abril). Be Careful What You Don’t Ask For: Why the Rogation Days Still Matter. ADOREMUS
Peter Day-Milne, (2022, 24 Maio). Don’t Ask and You Won’t Receive: An Apology for Reinstating the Rogation Days. ADOREMUS
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