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As Rogações: O que são e porque retomá-las hoje?

  • Cláudia Pereira
  • 28 de mai.
  • 4 min de leitura

O que são as Rogações?

As Rogações são dias especiais de oração — e, tradicionalmente, também de jejum e penitência — em que a Igreja suplica a Deus a sua proteção em tempos de necessidade, pede perdão pelos pecados e roga bênçãos para o trabalho humano e para os frutos da terra. Esses dias ensinam-nos que, diante das dificuldades da vida, a nossa primeira resposta deve ser sempre voltarmo-nos para Deus.


A bênção do trigo (1857) de Jules Breton
A bênção do trigo (1857) de Jules Breton

Quando e como surgiram?

A prática das Rogações surgiu em tempos antigos, marcados por guerras, fome, pestes e desastres naturais, portanto, tempos não muito diferentes dos que vivemos hoje. Diante dessas provações, os cristãos reconheceram a necessidade de pedir, com humildade, o auxílio divino. Com o passar do tempo, as duas formas principais de Rogações foram organizadas pela Igreja da seguinte forma:

  1. As Ladainhas Maiores, celebradas no dia 25 de abril, foram estabelecidas por São Gregório Magno para cristianizar uma procissão pagã romana. A intenção era pedir a bênção de Deus sobre os campos e afastar pragas e calamidades.

  2. As Ladainhas Menores, celebradas na segunda, terça e quarta-feira antes da Ascensão, foram instituídas por São Mamerto no século V, após grandes calamidades. Posteriormente, o costume espalhou-se por toda a Igreja.


Como se celebravam essas Rogações?

Nesses dias, os fiéis saíam em procissão, acompanhando o sacerdote, que vestia paramentos de cor roxa (símbolo de penitência). Durante o percurso, recitava-se a Ladainha de Todos os Santos, cantavam-se salmos penitenciais e, ao final, celebrava-se uma Missa votiva das Rogações.

A liturgia dessas Missas reforçava a confiança na oração. A Epístola de São Tiago lembrava-nos que «a oração fervorosa do justo pode muito» (Tg 5, 16), e o Evangelho de São Lucas trazia as palavras de Jesus:

«Pedi e dar-se-vos-á; buscai e encontrareis; batei e abrir-se-vos-á» - Lc 11, 9

Porque é que estas práticas desapareceram?

Com a reforma litúrgica do século XX, especialmente após o Concílio Vaticano II, as Rogações deixaram de ser amplamente celebradas. No entanto, não foram abolidas. O atual Cerimonial dos Bispos ainda prevê a sua celebração, e o Missal Romano menciona que as conferências episcopais podem determinar como e quando é que elas devem acontecer, adaptando-as às necessidades de cada região. Mas na prática, essas orientações foram pouco seguidas, e as Rogações caíram no esquecimento em muitas partes do mundo. Restou aos fiéis o desafio — e a graça — de redescobrirem essa bela tradição.


Dia de Rogação na Hungria (2017)
Dia de Rogação na Hungria (2017)

Podemos celebrá-las hoje?

Sim! Mesmo que não estejam previstas oficialmente em todos os calendários diocesanos, as Rogações podem e devem ser vividas em família ou em pequenas comunidades. No dia 25 de abril e nos três dias antes da Ascensão do Senhor, podemos:

  • Rezar o Santo Terço com intenções especiais;

  • Recitar a Ladainha de Todos os Santos;

  • Meditar ou cantar salmos penitenciais;

  • Oferecer pequenas penitências, mesmo em tempo pascal;

  • Pedir a Deus pelas nossas necessidades particulares, pelas famílias, pela Igreja, pelos governantes, pelos enfermos e por todos os que sofrem.


Qual é o valor espiritual das Rogações?

As Rogações são um exercício de fé e confiança. Elas recordam-nos que, como filhos de Deus, podemos bater à porta do Céu com humildade e perseverança. Também nos ensinam que a oração pública da Igreja tem uma grande força, e que os tempos difíceis são tempos em que devemos fazer mais oração, e não, menos oração.

Além disso, a cor roxa usada nessas celebrações, mesmo durante a alegre época da Páscoa, recorda-nos que a penitência é sempre necessária. O mundo continua a ser um campo de batalha espiritual, e a nossa vigilância não deve cessar ou baixar a guarda:

«O vosso adversário, o diabo, ronda como um leão a rugir, procurando a quem devorar.» - 1 Pd 5, 8

E na liturgia tradicional?

Na forma extraordinária do rito romano, as Rogações continuam a ser uma parte viva da liturgia anual. Mesmo com as restrições recentes impostas à celebração do rito antigo, esta forma de culto permanece como um tesouro da Igreja, testemunhando séculos de fé e oração.


Podemos recomeçar?

Sim! A história das Rogações mostra que tudo começou com pequenas iniciativas locais, em tempos difíceis, e foi crescendo pouco a pouco até se tornar parte da vida de toda a Igreja. Talvez hoje o mesmo deva acontecer: famílias que rezam, paróquias que organizam procissões, comunidades que redescobrem a força da oração comum.

Se quisermos que as Rogações voltem a ocupar um lugar de honra na vida da Igreja, devemos começar por nós mesmos. Deus continua pronto a ouvir, abençoar e proteger aqueles que, com fé e humildade, se colocam diante d’Ele.


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Referências:

Equipa Christo Nihil Præponere, (2021, 7 Maio). Rogações: o que são e por que resgatá-las?. Padre Paulo Ricardo

Equipa Christo Nihil Præponere, (2022, 23 Maio). Hora de resgatar as Rogações!. Padre Paulo Ricardo


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