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1 de Julho - A Festa esquecida do Preciosíssimo Sangue de Jesus

  • Cláudia Pereira
  • 30 de jun.
  • 7 min de leitura


A história da Festa do Preciosíssimo Sangue de Jesus

De acordo com o Calendário Católico Tradicional de 1962 e anteriores, o dia 1 de julho é a Festa do Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Esta festa foi instituída para a Igreja Universal em 1849 pelo Papa Pio IX e foi elevada à categoria de duplo de primeira classe pelo Papa Pio XI, por ocasião do décimo nono centenário da morte do nosso Salvador, em 1933.

Esta festa, como tantas outras, foi vítima das novidades da Igreja pós-Vaticano II. Embora só tenha sido instituída em 1849, esta festa relativamente recente merece ser honrada e considerada, principalmente depois de ter terminado o mês de junho, que é dedicado à honra do Sagrado Coração de Jesus.

Coroa de espinhos com sangue

O padre Johann Evalgelist Zollner (1883) relata a seguinte história para esta importante festa:

«Neste dia, a Igreja celebra a festa do Preciosíssimo Sangue de Jesus Cristo. Esta festa, que era celebrada em algumas dioceses desde o século XV, na segunda-feira depois do Domingo da Trindade, foi alargada pelo Papa Pio IX a todo o mundo cristão, e a sua celebração foi prescrita para o primeiro domingo de julho. O tempo de perseguição e de sofrimento já tinha começado para o Soberano Pontífice. Obrigado, por uma revolução, a deixar Roma, foi para Gaeta, no reino de Nápoles, onde viveu no exílio durante dezassete meses, até abril de 1850. Foi aqui que, no décimo dia de agosto de 1849, instituiu a festa do Preciosíssimo Sangue.

Esse sangue sacratíssimo, é o preço da nossa Redenção, e é derramado diariamente no Santo Sacrifício da Missa, de onde flui para os canais dos sete Sacramentos, como expiação dos nossos pecados e para a nossa santificação. Assim como no Egito, Deus foi propiciado pelo sangue do cordeiro pascal, tipo e figura do verdadeiro Cordeiro de Deus, assim também é propiciado pelo sangue do Seu Filho, o verdadeiro Cordeiro pascal, que fala melhor do que o de Abel. Aqui está, a mais forte evidência do infinito amor de Jesus Cristo que, não apenas uma, mas sete vezes, derramou o Seu precioso sangue para nossa salvação, através dos mais cruéis sofrimentos.

Que este derramamento sétuplo do precioso sangue, seja o tema da nossa presente meditação:

  1. O primeiro derramamento de sangue foi aquando da circuncisão.

  2. O segundo derramamento de sangue foi no Jardim das Oliveiras.

  3. No terceiro, Jesus é flagelado. Os quatro evangelistas narram que Jesus foi flagelado.

  4. Jesus derramou o seu sangue pela quarta vez, quando foi coroado de espinhos.

  5. Jesus derramou o seu sangue pela quinta vez, carregando a cruz.

  6. Jesus derramou o seu sangue pela sexta vez, quando foi crucificado.

  7. A sétima e última vez que Jesus derramou o seu sangue foi quando o seu lado foi aberto.

Assim, Jesus derramou o Seu precioso sangue sete vezes, e o preço destas sete efusões de sangue encontra-se nos sete Sacramentos, pelos quais somos purificados do pecado e santificados. Estas sete efusões de sangue lembram-nos também as três virtudes teologais e as quatro virtudes cardeais; também as sete virtudes opostas aos sete pecados capitais ou mortais, que nos são infundidas pelo batismo; também os sete dons do Espírito Santo, que recebemos na confirmação, e finalmente os sete dias da semana, que devemos dedicar ao serviço de Deus.

A aliança entre Deus e os israelitas foi selada com sangue. A nova aliança foi selada com o precioso sangue de Jesus Cristo. A aliança entre Deus e os homens é selada de novo tantas vezes quantas as que o Santo Sacrifício da Missa é oferecido a Deus. Assiste, sempre que possas, ao tremendo Sacrifício da Missa e recebe frequentemente a sagrada comunhão.»


Costumes em honra do Preciosíssimo Sangue

A maior parte dos costumes abordados, baseiam-se em costumes antigos ou, pelo menos, medievais, que honravam as festas e os jejuns do ano litúrgico. Todavia, devido à instituição relativamente recente desta festa, não existem costumes históricos associados a ela como o Corpus Christi, a Assunção, a Páscoa e outros dias santos antigos.

No entanto, a devoção ao Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor remonta muito antes da instituição desta festa de 1 de julho. A devoção ao Preciosíssimo Sangue está ligada à devoção à Paixão e Morte de Nosso Senhor, uma vez que, através do derramamento do Seu Sangue, a humanidade foi redimida. Por conseguinte, pode dizer-se que a Igreja sempre honrou o Sangue de Jesus Cristo.

Na Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos, capítulo 5, versículo 9, podemos ler:

«E agora, que fomos justificados pelo seu sangue, com muito maior razão seremos por Ele salvos da ira divina.»

Epístola aos Hebreus, capítulo 13, versículo 12, lemos o seguinte:

«Por isso, também Jesus, para santificar o povo com o seu próprio sangue, padeceu fora das portas.»

A primeira Epístola do apóstolo João, no capítulo 1, versículo 7, também escreve sobre o Sangue Precioso:

«Se caminhamos na luz, como Ele, que está na luz, então temos comunhão uns com os outros e o sangue do seu Filho Jesus purifica-nos de todo o pecado.»

Faríamos bem em meditar nas sete vezes em que Cristo derramou o Seu Precioso Sangue para a nossa salvação. Como nos recorda o Padre Peter Scott, Fsspx:

«A veneração do Precioso Sangue do nosso Divino Salvador é tão antiga como a Paixão em que foi derramado. Fundamenta-se na simples doutrina da Encarnação, ou seja, que a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, tomou para Si uma natureza humana, e que esta natureza humana é a natureza humana de Deus. Chamamos a isto a união hipostática. Cada parte da natureza humana de Cristo, está unida à segunda Pessoa divina. Consequentemente, isto inclui o Seu Sangue Precioso, ao qual é devida a adoração, que é devida ao próprio Deus, a adoração de latria. Por conseguinte, a devoção ao Preciosíssimo Sangue, não precisa de uma revelação particular, mas encontra-se profundamente enraizada no depósito da fé.»

Mais perto da nossa era moderna, a devoção ao Preciosíssimo Sangue foi grandemente encorajada por São Gaspar Búfalo, fundador da Congregação do Preciosíssimo Sangue de Jesus Cristo. A festa foi celebrada anteriormente pelos padres do Preciosíssimo Sangue, na sexta-feira após o quarto domingo da Quaresma, como relatado por Padre Ulrich F. Mueller:

"Pedimos-Te, portanto, que ajudes as almas detidas no purgatório, que remiste com o Teu precioso Sangue." - Sec. XIX. Litografia francesa
"Pedimos-Te, portanto, que ajudes as almas detidas no purgatório, que remiste com o Teu precioso Sangue." - Sec. XIX. Litografia francesa

«Em muitas dioceses, há dois dias para os quais foi atribuído o Ofício do Preciosíssimo Sangue, sendo que em ambos os casos o Ofício é o mesmo. A razão é a seguinte: o ofício foi inicialmente concedido apenas aos Padres do Preciosíssimo Sangue. Mais tarde, como um dos ofícios das sextas-feiras da Quaresma, foi atribuído à sexta-feira depois do quarto domingo da Quaresma. Em muitas dioceses estes ofícios foram adoptados também pelo quarto Conselho Provincial de Baltimore (1840). Quando Pio IX foi para o exílio em Gaeta (1849), teve como companheiro São Don Giovanni Merlini, terceiro superior geral dos Padres do Preciosíssimo Sangue. Chegado a Gaeta, Merlini sugeriu a Sua Santidade que fizesse o voto de alargar a festa do Preciosíssimo Sangue a toda a Igreja, se voltasse a obter a posse dos domínios papais. O Papa tomou o assunto em consideração, mas alguns dias depois, enviou o seu prelado doméstico Jos Stella a Merlini, com a mensagem: "O Papa não considera conveniente vincular-se a um voto; em vez disso, Sua Santidade tem o prazer de estender a festa imediatamente a toda a Cristandade". Era 30 de junho de 1849, o dia em que os franceses conquistaram Roma e os republicanos capitularam. O dia 30 de junho tinha sido um sábado, antes do primeiro domingo de julho, pelo que o Papa decretou (10 de agosto de 1849) que, doravante, todos os primeiros domingos de julho fossem dedicados ao Preciosíssimo Sangue.»

Devemos a instituição de uma festa especial em honra do Preciosíssimo Sangue, ao Papa Pio IX. Foi o Papa S. Pio X que transferiu a festa do primeiro domingo de julho para o dia 1 de julho. E foi o Papa Pio XI que elevou a categoria da festa, em comemoração do 19º centenário do mistério da Redenção.


Devoções ao Preciosíssimo Sangue

Em honra da Festa do Preciosíssimo Sangue, e para o mês de julho que é dedicado de modo especial à memória do Preciosíssimo Sangue, a Igreja abençoou várias devoções que devemos considerar praticar nesta altura:

Terço do Preciosíssimo Sangue (aprovado pelo Papa Pio VII e enriquecido com indulgências que remontam a 1809 e 1815)

Ladainha do Preciosíssimo Sangue de Jesus (aprovada pelo Papa João XXIII a 24 de fevereiro de 1960 e enriquecida com uma indulgência)

Oferenda em Reparação ao Preciosíssimo Sangue de Jesus (aprovada pelo Papa Pio VII a 22 de setembro de 1817, e enriquecida com uma indulgência)

Oferta do Preciosíssimo Sangue pelas Almas

As Sete Ofertas do Preciosíssimo Sangue (aprovadas pelo Papa Pio VII e enriquecidas com indulgências que remontam a 1817)

Podemos também considerar, como leitura de verão, obter uma cópia da Devoção ao Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo: A maior devoção do nosso tempo, produzido pelo Apostolado do Preciosíssimo Sangue.


Conclusão

O Padre Frederick Faber, em O Precioso Sangue, escreve a seguinte meditação, muito apropriada para este dia e para todos os dias de julho:

O sangue do Cordeiro". sec XIX. Mosteiro Beneditino de Beuron - Alemanha
"O sangue do Cordeiro". sec XIX. Mosteiro Beneditino de Beuron - Alemanha

«O Precioso Sangue foi assumido diretamente na Pessoa Divina de Nosso Senhor, pela Sua Mãe Imaculada... O sangue de Maria foi a matéria da qual o Espírito Santo, a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, artífice da Sagrada Humanidade, formou o Sangue de Jesus. Aqui vemos como a doutrina da Imaculada Conceição é necessária para a alegria e o júbilo da nossa devoção. Quem poderia suportar a ideia de que a matéria do Precioso Sangue, tenha sido alguma vez corrompida com a mancha do pecado, que tenha feito parte do reino do demónio, que aquilo que deveria fornecer o preço gratuito da nossa redenção tenha sido alguma vez escravizado ao inimigo mais sombrio e mais imundo de Deus? Não é, de facto, um jubileu diário e interminável para nós, o facto de a Igreja nos ter imposto, como um artigo da nossa fé, aquela doce verdade que os instintos da nossa devoção há tanto tempo tornaram uma parte real da nossa crença?

Além disso, há uma porção do Precioso Sangue que, uma vez que foi o próprio sangue de Maria, e que ainda permanece em nosso Senhor Abençoado, incrivelmente exaltado pela Sua união com Sua Pessoa Divina, mas ainda o mesmo. Acredita-se piedosamente que essa porção de si mesmo não sofreu as mudanças habituais da substância humana. Neste momento, no Céu, Ele conserva algo que já foi da Sua Mãe...»

Que Nossa Senhora nos ajude a honrar melhor o Precioso Sangue do Seu Filho. E que as nossas devoções e orações em honra desta festa esquecida, ajudem a estabelecer outros costumes que os católicos tradicionais honrarão e observarão cada dia 1 de julho durante séculos.


Tradução do original de Matthew Plese (2022, 30 Junho). Forgotten Customs of the Precious Blood. One Peter Five


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