«Procuravam prender Jesus, mas ainda não chegara a sua hora» - 4-04-2025
- Cláudia Pereira
- 4 de abr.
- 5 min de leitura

LITURGIA DA PALAVRA
LEITURA I - Sab 2, 1a.12-22
«Condenemo-lo à morte infame»
Leitura do Livro da Sabedoria
Dizem os ímpios, pensando erradamente: «Armemos ciladas ao justo, porque nos incomoda e se opõe às nossas obras. Censura-nos as transgressões da Lei e repreende-nos as faltas de educação. Declara ter o conhecimento de Deus e chama-se a si mesmo filho do Senhor. Tornou-se uma censura viva dos nossos pensamentos e até a sua vista nos é insuportável. A sua vida não é como a dos outros e os seus caminhos são muito diferentes. Somos considerados por ele como escória e afasta-se dos nossos caminhos como de uma coisa impura. Proclama feliz a morte dos justos e gloria-se de ter a Deus como pai. Vejamos se as suas palavras são verdadeiras, observemos o que sucede na sua morte. Porque se o justo é filho de Deus, Deus o protegerá e o livrará das mãos dos seus adversários. Provemo-lo com ultrajes e torturas, para conhecermos a sua mansidão e apreciarmos a sua paciência. Condenemo-lo à morte infame, porque, segundo diz, Alguém virá socorrê-lo».
Assim pensam os ímpios, mas enganam-se, porque a sua malícia os cega. Ignoram os segredos de Deus e não esperam que a santidade seja premiada, nem acreditam que haja recompensa para as almas puras.
Palavra do Senhor.
T: Demos graças a Deus.
Explicação da Leitura I:
O eterno conflito entre o bem e o mal, entre o pecado e a graça, entre o mundo (no sentido de aqueles que não são iluminados pela palavra da salvação) e Deus, reclama finalmente um julgamento, um juízo. E esse juízo vai ser a morte e a ressurreição de Jesus. É aqui que se revela, em toda a sua maldade, o pecado, mas também é aí que ele fica condenado, e se manifesta, em todo o seu esplendor, a verdade, a graça e a vida.
SALMO RESPONSORIAL
Salmo 33 (34), 17-18.19-20.21.23 (R. 19a)
Refrão: O Senhor está perto dos corações atribulados.
A face do Senhor volta-se contra os que fazem o mal,
para apagar da terra a sua memória.
Os justos clamaram e o Senhor os ouviu,
livrou-os de todas as suas angústias. O Senhor está perto dos corações atribulados.
O Senhor está perto dos que têm o coração atribulado
e salva os de ânimo abatido.
Muitas são as tribulações do justo,
mas de todas elas o livra o Senhor. O Senhor está perto dos corações atribulados.
Guarda todos os seus ossos,
nem um só será quebrado.
O Senhor defende a vida dos seus servos,
não serão castigados os que n’Ele se refugiam. O Senhor está perto dos corações atribulados.
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO - Mt 4, 4b
Refrão: Grandes e admiráveis são as vossas obras, Senhor.
Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.
EVANGELHO - Jo 7, 1-2.10.25-30
«Procuravam prender Jesus, mas ainda não chegara a sua hora»
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo, Jesus percorria a Galileia, evitando andar pela Judeia, porque os judeus procuravam dar-Lhe a morte. Estava próxima a festa dos Tabernáculos.
Quando os seus parentes subiram a Jerusalém, para irem à festa, Ele subiu também, não às claras, mas em segredo.
Diziam então algumas pessoas de Jerusalém: «Não é este homem que procuram matar? Vede como fala abertamente e não Lhe dizem nada. Teriam os chefes reconhecido que Ele é o Messias? Mas nós sabemos de onde é este homem, e, quando o Messias vier, ninguém sabe de onde Ele é».
Então, em alta voz, Jesus ensinava no templo, dizendo: «Vós Me conheceis e sabeis de onde Eu sou! No entanto, Eu não vim por minha própria vontade e é verdadeiro Aquele que Me enviou e que vós não conheceis. Mas Eu conheço-O, porque d’Ele venho e foi Ele que Me enviou».
Procuravam então prender Jesus, mas ninguém Lhe deitou a mão, porque ainda não chegara a sua hora.
S: Palavra da salvação.
T: Glória a Vós Senhor.
Explicação do Evangelho:
Em Jesus crucificado aparece o triunfo da morte, mas em Jesus ressuscitado, o triunfo da Vida. O Mistério Pascal é o juízo de Deus manifestado em Cristo. Quem o entenderá? E, entendendo-o, quem se disporá a aceitá-lo na fé, na esperança, no amor, na ação de graças pascal? A tanto nos quer dispor a liturgia da Quaresma.
Meditação
No Evangelho de hoje, Jesus entra numa controvérsia em Jerusalém a respeito da sua identidade. Quem é Jesus? Ora, para responder a essa pergunta nós precisamos ter fé. Por quê? Porque, até mesmo nas aparências mais óbvias, Jesus não é nada daquilo que Ele realmente é. Jesus sobe a Jerusalém com os seus parentes, mas os seus parentes eram todos de Nazaré. Mas se o Messias deveria vir da Judéia… Como é possível? E quando o Messias viesse, ninguém saberia de onde Ele vem. Ora, isso aqui nós sabemos. Quem Ele é? O filho do carpinteiro. Portanto, Jesus não corresponde à ideia, ao conceito pré-formado daquele que é o Enviado de Deus.
No versículo 28, Jesus fala em alta voz, mas o grego original dá mais a ideia de que Jesus gritou essa mensagem. E o que Jesus brada? O que Jesus grita? Ele diz: “Vós não conheceis a Deus, mas eu o conheço”. Vejam, meus queridos, talvez essa seja uma das principais mensagens que precisamos colocar no nosso coração nesta Quaresma. Nós precisamos, sim, de conversão. Quaresma é tempo de conversão, eis o tempo de conversão, conversão, metanóia, mudança de mentalidade, e a primeira coisa que precisamos mudar é a ideia que nós temos de Deus.
Muitas pessoas têm uma ideia pecaminosa de Deus. Não é porque as pessoas são devotas, não é porque as pessoas rezam, não é porque as pessoas têm um deus que elas deixam de ser iníquas. Muitas vezes as pessoas têm um deus que é parecido com a lâmpada de Aladim: você esfrega a lâmpada, e aparece um deus a seu serviço — “Sim, amo” — para atender aos seus desejos. Ora, isso é um deus iníquo, é um deus — me desculpe dizer — um deus demoníaco. Por quê? Porque inverte a ordem das coisas, pois nós, que somos servos e filhos de Deus, queremos tomar o lugar de Deus para que Deus faça a nossa vontade.
Então, a primeira coisa de que precisamos é deixar-nos desconcertar por Deus. O seu Enviado, Jesus, que é Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, vem extremamente desconcertante. Esperava-se um Messias glorioso, e Ele vem na humildade de Jesus. Esperamos que Deus nos visite na prosperidade, na bênção, na cura, fazendo nossas vontades, caprichos e veleidades; mas, às vezes, Deus nos visita na dor, na cruz, na contrariedade.
Essas visitas de Deus são muitas vezes, aliás — digo eu —, sempre mais eficazes do que as visitas na prosperidade. Por quê? Porque Deus precisa nos transformar. Eis aí a Quaresma! Eis o tempo da conversão, eis o dia da salvação! Vamos lá! Coragem! Vamos mudar nossa idéia de Deus. Vamos ouvir Jesus, que brada, que grita, que diz para curar a nossa surdez: “Vós não conheceis a Deus”. Isso quer dizer o seguinte: você fica esperando a visita de Deus — “Deus me abandonou!” —, mas pode ser que Ele esteja aí do seu lado, visitando você na cruz, no sofrimento, nesse momento de profunda dor que você vive.
Pode ser que Deus esteja aí e esteja pedindo: “Você não vai me reconhecer? Não vai me amar? Na cruz eu disse: ‘Esse é o meu corpo que é dado’. Você não vai dar também o seu corpo na sua pequena cruz, para que eu possa transformar você e possamos, juntos, celebrar a páscoa?”, a passagem da morte e do egoísmo para uma vida nova, uma vida sobrenatural onde o amor de Deus, manifestado em Jesus Cristo, é derramado em nossos corações.
Padre Paulo Ricardo. "A religião do gênio da lâmpada" in Homilia Diária de 1-04-2022
Que Deus vos abençoe por toda a eternidade.
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